Fui desafiada por um amigo a ler o livro “O Redentor” de Edgard Armond (Ed. Aliança, SP, 1979). Ao primeiro prólogo pensei que fosse uma obra parecida “O meu Cristo partido”, do padre Ramon Crué, que comunga narrativa complexa de vida com espiritualidade.
O Redentor segue a trajetória de um personagem principal que busca a iluminação e a compreensão do verdadeiro propósito da vida. Em sua jornada, ele encontra diversos desafios e figuras que representam diferentes aspectos da sociedade e da condição humana. Através dessas interações, o autor explora temas como a redenção, o autoconhecimento e a evolução espiritual.
Armond utiliza uma linguagem acessível, mas carregada de significados profundos, tornando a leitura tanto agradável quanto desafiadora. E para quem diz não gostar de filosofia o livro é permeado por reflexões filosóficas e espirituais que convidam o leitor a introspectar e questionar suas próprias crenças e atitudes.
Mesmo sendo um livro bastante lido pelos espíritas, este pode e deve ser lido por qualquer religião ou desinência espiritual, ao integrar conceitos e ensinamentos universais que transcende barreiras religiosas e culturais. A narrativa é construída de maneira a conduzir o leitor por um caminho de autodescoberta, incentivando-o a buscar uma vida mais consciente e alinhada com os princípios espirituais.
Como bônus track, o livro traz também desenhos ilustrativos, um mapa da cidade de Jerusalém ampliado e um bem pequeno (p. 35/36) da cidade da Palestina dos tempos de Jesus, com uma pequena mostra da cidade Nazareth, uma preciosidade para a literatura clássica românica cobiçada pelos arqueólogos americanos e egípcios por muitos anos. Como sofreram e ainda sofrem os palestinos, que hoje estão sob grande opressão de uma guerra brutal que une tráfico, mentiras, milicias, política, interesses escusos e religião.
A obra cita e revisita vários personagens e eventos bíblicos, se utilizando de símbolos para ilustrar conceitos. Em um segundo momento pensei não houvesse nada escrito sobre Maria, a mãe de Jesus. Mas, logo nos primeiros capítulos, Armond introduz Maria como uma figura central no plano divino de redenção da humanidade. Ele destaca sua pureza, devoção e aceitação do papel de mãe de Jesus, enfatizando sua importância como um exemplo de fé e obediência à vontade de Deus.
Outro momento que fala de Maria é na anunciação do anjo Gabriel. Está parte fica clara a aceitação de Maria como mensageira e mulher que soube cumprir sua missão na terra, ressaltando sua humildade e coragem. Maria como mãe educadora de Jesus na infância, sábia e espiritual. Às vezes chega-se a pensar que a história de Jesus não é sobre ele, mas sobre Maria, sua mãe.
Outra parte do livro, ele explora o sofrimento de Maria na crucificação de Jesus. Ele descreve a dor imensa que ela sentiu ao ver seu filho sofrer e morrer, como se estivesse lá, mas também destaca sua força e fé inabaláveis. Este momento é utilizado para ilustrar o tema do sacrifício e da redenção, central ao argumento de Armond.
Após a ressurreição de Jesus, Armond retrata Maria como uma figura de continuidade e esperança para os discípulos. Ela é vista como um pilar de fé, ajudando a manter viva a mensagem e os ensinamentos de Jesus. Sua presença confortadora e inspiradora é destacada como crucial para o fortalecimento da fé dos primeiros cristãos católicos no mundo.
Edgard Armond utiliza a figura de Maria para reforçar os temas centrais de "O Redentor" – fé, sacrifício, redenção e amor incondicional. Sua representação de Maria vai além da mera figura histórica, transformando-a em um símbolo poderoso de espiritualidade e devoção. É uma obra que merece ser lida e relida, pois cada nova leitura revela camadas adicionais de significado e sabedoria, o problema é saber interpretar na dinâmica daquilo que creio e o que compreendo.