
Gravado no melhor estilo nordestino de se fazer rock, os produtores e a divulgação reclamaram, que a mídia local nem deu tanto destaque assim ao trabalho da banda como a imprensa do sudeste. A Folha de São Paulo, diz a produção, deu metade de uma página ao grupo da Paraíba.
Todas as quinze letras são de autoria do fundador da banda, o guitarrista, Ilsom Barros, um pernambucano, que se sente mais paraibano do que qualquer nativo. A banda amadureceu bastante e deixou de lado o estilo meio “mangue beat de ser” do início para investir num som mais pesado e ligeiro, muito embora ainda apresente numa e outra música um timbre sutil e amaneirado de ritmos nordestinos.
Munido de um violão eletrificado com cordas de aço e as vezes cordas normais de um violão antigo e surrado Ilsom Barros tira solos pesados com toda distorção necessária para o estilo de som que tentam imprimir. As letras das músicas não parecem tolas, mas estão carregadas de uma poética de cordel, como na canção “Oportunidade” em que diz: “Seu doutor me dê uma chance. Pra eu mostrar minha força. Ajuda a vingar meu sustento. E se eu tiver uma oportunidade eu lhe provo que to disposto. Me ajuda a vencer meu sustento. E mostrar que eu sei”.
A atitude irreverente do rock e toda sua indignação vem estampada na décima faixa “Vá se Foder”. A música tem poucos minutos. Você não entende muita coisa, mas como diz o próprio guitarrista, no encarte do disco: “Mas quem se importa?”. É nesse fazer de coisas que o trabalho segue irreverente e tem chamado a atenção dos ouvidos mais aguçados e exigentes do sul e sudeste do país.
“Power-trio”, “banda pós-punk” são alguns dos adjetivos que estão qualificando o grupo paraibano. Quanto surgiu, fazia parte ainda da banda o baixista Edy Gonzaga (ex-Flávio C). Hoje o grupo é formado por dois nordestinos Ilsom Barros (violão eletrificado) e Guga (bateria), e um paulista Martim (baixo) que se encantou com o trabalho do grupo desde que os viu tocar pela primeira numa noite em São Paulo. Neste trabalho ninguém é melhor que ninguém. O baixo distorcido aparece forte e com destaque na faixa 14 (HC) e a bateria exibe todo o seu peso sincopado em músicas como “A-M-N”.
O nome da banda foi dado por Ilsom quando conheceu, na infância, uma velha lavadeira que trabalhava na casa de seus pais em João Pessoa e que ganhou o apelido de Bomba por causa do barulho que fazia ao bater com a roupa molhada na pedra à beira do rio. Ilsom integrou a banda Pau de Dá em Doido (pop-rock com forte acento regional). Depois que a banda acabou resolveu buscar novos parceiros e rever seus objetivos musicais. Guga foi um dos caras que topou juntar bateria e baixo a uma certa viola-guitarra inventada pelo próprio Ilson para formar o Zefirina Bomba, cuja relação com a velha lavadeira não está somente no nome, mas também no som que os três músicos perseguem: um rock direto, de impacto, feito com vigor, como a pancada da roupa molhada na pedra.
Para quem gosta de som pesado eis a dica: o disco “Noisecoregroovecocoenvenenado”da Zefirina Bomba. É peso do início ao fim. Os ouvidos descansam um pouco apenas na 15a faixa, “Enquanto Otacílio Batista Explicava”, em que rendem uma homenagem ao repentista pernambucano Otacílio Batista. O repentista, que estava radicado em João Pessoa há vários anos, faleceu em 5 de agosto de 2003. Foi autor de livros como: Poemas que o Povo Pede; Rir Até Cair de Costas; Poema e Canções; e Antologia Ilustrada dos Cantadores, este último com F. Linhares. Versos de Otacílio foram musicados pelo compositor Zé Ramalho, dando origem à canção “Mulher Nova Bonita e Carinhosa”, gravada inicialmente pela cantora Amelinha e depois pelo próprio Zé Ramalho. A canção foi tema de uma filme brasileiro sobre Lampião, o Rei do Cangaço. Em João Pessoa, o disco está sendo vendido na loja de discos “Música Urbana”, localizada no centro da cidade. Agora quem quiser escutar uma prova do trabalho da Zeferina pode acessar o site da Trama Virtual, através do endereço eletrônico: http://www.tramavirtual.com.br/zeferina. Lá o internauta vai encontrar também galeria de fotos, o premix do disco e algumas canções do primeiro CD-demo.
Adriana Crisanto
Serviço:
Banda Zefirina Bomba
Título: "Noisecoregroovecocoenvenenado"
Lançamento: Trama - http://www.tramavirtual.com.br/zefirina