
Parahyba, Filiphéia de Nossa Senhora das Neves, Frederica, Cidade das Acácias, Extremo Oriental, João Pessoa. Seja lá que nomes quiseram te dar. Meu sublime torrão, minha terra em que tantos sufocam e querem um pedaço completa hoje, 5 de agosto de 2008, exatos 423 anos. Aniversário não apenas de fundação, mas de resistência e luta para se firmar enquanto cidade. E para bem comemorar a data o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) entrega aos moradores da cidade a tão sonhada homologação do tombamento da cidade como Patrimônio Cultural Nacional.
A solenidade acontece às 18h30, no palco principal da Festa das Neves, com a presença do presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida. Paralelo as atividades, o presidente do Iphan receberá às 17h, o Título de Cidadão Pessoense, entregue pela Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP). Às 19h, a visita termina com a apresentação da Orquestra de Câmara da Cidade de João Pessoa, no palco principal da Festa das Neves.

O centro histórico paraibano foi inscrito nos seguintes Livros do Tombo: Histórico e Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. O tombamento do local foi motivado por seus valores históricos (por ser uma das primeiras cidades fundadas no Brasil, depois de Rio de Janeiro e Salvador); paisagístico (as edificações compõem um cenário que integra a vegetação de mangue ao rio e ao mar) e artístico, por congregar construções de diferentes estilos e épocas.
A proposta de tombamento da área surgiu em 2002, através de solicitação da Associação Centro Histórico Vivo (Achervo). O pedido foi remetido ao Ministério da Cultura e encaminhado à Superintendência Regional do Iphan. Depois de algumas reformulações no projeto inicial, a solicitação foi analisada e, posteriormente, discutida e votada durante a reunião do Conselho do Instituto.
Os casarões e casarios representam a história da terceira cidade mais antiga do país. São prédios representativos dos vários períodos da história de João Pessoa: o barroco da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco; o rococó da Igreja de Nossa Senhora do Carmo; o estilo maneirista da Igreja da Misericórdia; a arquitetura colonial e eclética do casario civil; e o art-nouveau e o art-déco, das décadas de 20 e 30, predominantes na Praça Anthenor Navarro e no Hotel Globo.
O Iphan vai destinar R$ 450 mil para a primeira fase das obras de “Restauração da Intendência da Antiga Alfândega, localizada no Varadouro. O “Prédio Amarelo”, como é popularmente conhecido, deverá abrigar o Centro de Cultura Popular Porto do Capim após a conclusão dos trabalhos de restauração. A superintendência do instituto na Paraíba já deu início ao processo de licitação pública, cujo edital encontra-se em vias de publicação. A obra de restauração da Intendência integra o Projeto de Revitalização do Porto do Capim.
O que é o tombamento?

Trata-se de um instrumento legal que garante a preservação de um espaço significativo para a cultura do país, seja ele um bem público ou privado, em função do interesse coletivo. É também a ação que possibilita a guarda de um bem assegurado pelo poder público, por meio da inscrição no Livro do Tombo, composto por quatro livros: Histórico; das Belas Artes; Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, e das Artes Aplicadas.
Qualquer intervenção em área preservada deve ter a autorização do Iphan. É de responsabilidade do instituto, dentre outras inúmeras funções atribuídas ao mesmo, evitar a descaracterização do local, protegendo os valores que motivaram o seu tombamento. O ato de tombamento representa ainda o comprometimento do governo federal em dar a assistência que a região precisa.
O termo tombamento só é utilizado quando o bem cultural é de natureza material, como no caso de monumentos, edificações, conjuntos arquitetônicos, prédios, dentre outros. No caso de um bem de natureza imaterial, como manifestações culturais, saberes, fazeres, e formas de expressão, por exemplo, utiliza-se o processo de registro para transformar o bem em patrimônio cultural brasileiro.
A partir do reconhecimento, o poder público deverá se empenhar e realizar a manutenção dos locais tombados por meio de ações como: iniciativas e parcerias que tenham por objetivo o desenvolvimento de atividades econômicas e turísticas; envolvimento da comunidade na proteção do patrimônio; valorização da tradição local e utilização de seus edifícios em proveito da cultura.
História do seu espaço urbano

A cidade se desenvolveu a partir de dois núcleos principais: o Varadouro e a Cidade Alta, ligados pela Ladeira de São Francisco. O Porto do Capim foi criado em águas fluviais para escoar a produção local, principalmente o açúcar de exportação. Ao seu redor, estabeleceu-se a importante região comercial do Varadouro, onde foram construídos armazéns e a alfândega. A partir de meados do século XIX chegaram às primeiras ferrovias e a antiga Estação Ferroviária foi instalada no local. No início do século XX, a ferrovia se expandiu em sentido norte até o porto da cidade de Cabedelo, desativando assim o Porto do Capim e interferindo na integração entre o rio e a cidade, o que causou o abandono da região.
A Cidade Alta se formou ao redor da igreja matriz e lá se instalaram as primeiras residências da elite. Nesta área estão situados vários monumentos importantes, como o Museu de Arte Sacra da Paraíba, localizado no Conjunto da Ordem Terceira de São Francisco; o Teatro Santa Roza, o terceiro mais antigo do Brasil, todo revestido internamente de madeira Pinho de Riga; e a Biblioteca Pública Estadual, exemplar do ecletismo do final do século XIX. No século XX, o comércio de padrão médio e alto migrou para a Cidade Alta, causando a valorização dos terrenos.
Porto do Capim
Um exemplo de ação de preservação na Paraíba é o projeto de revitalização do Porto do Capim, lançado em agosto de 2007. O Iphan, em parceria com a Agência Espanhola de Cooperação Internacional (AECI), desenvolveu o projeto que prevê toda a adequação do espaço do porto e da região do Varadouro, para que a área seja destinada ao lazer, à cultura e ao turismo. Haverá a restauração de 8 imóveis, a criação de infra-estrutura no parque ecológico da região e a reorganização do comércio de rua, com envolvimento dos agentes e moradores locais.
Adriana Crisanto
Repórter
adriana@jornalonorte.com.br
adrianacrisanto@gmail.com
Fotos: Iphan
Pesquisas no site do Iphan.