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sexta-feira, janeiro 13, 2006

Catalógo Raisonné


Imagine uma publicação com 2.500 páginas dividida em cinco volumes, com cerca de 500 páginas cada, identificando as mais de quatro mil obras de um artista plástico. Imaginou? Isso existe e autor do feito se chamou Candido (sem acento mesmo) Portinari. A obra, que não tem precedentes na América Latina, abarca todos os períodos e técnicas de um dos maiores artistas do século XX.
A obra, que passou a ser chamada de “Catálogo Raisonné”, é uma das últimas etapas dos 25 anos de trabalho do Projeto Portinari, criado e dirigido por João Candido Portinari com toda a vasta produção de Candido Portinari (1903-1962). O catálogo, que será lançado oficialmente no dia 27 de setembro, na 26a Bienal Internacional de São Paulo, custa à bagatela de R$ 2.000,00, tem tiragem de dois mil exemplares e será distribuído para 500 instituições públicas de todo país.
O Catálogo Raisonné de Candido Portinari tem edição bilíngüe (português/inglês) e consiste hoje na mais completa e definitiva fonte de referência sobre a obra do artista em ordem cronológica. Todas reproduzidas a cores, com um verbete capaz de contextualizar desde informações técnicas até dados históricos e bibliográficos.
O diretor do projeto Portinari, João Candido Portinari, disse que foram percorridos 20 países das três Américas, Europa e Oriente Médio em busca das obras e dos documentos sobre a obra, vida e época do pintor. Para compor a obra foram criadas metodologias e ferramentas tecnológicas pioneiras, que vão desde o somatório, seja no levantamento da pesquisa como na catalogação. Um projeto tão audacioso só poderia ter o apoio de uma grande multinacional, a Petrobrás. Com o catálogo Raisonné o Brasil entra no cenário artístico internacional, não apenas pela criação de ferramentas tecnológicas e linguagens inéditas, mas também pela riqueza e qualidade das informações contidas nos cinco volumes. João Candido Portinari diz que até hoje o chamado Primeiro Mundo teve reservado para si o círculo mágico do qual acontece a grande arte. “A partir da publicação de nosso Catálogo Raisonné, passamos para dentro deste círculo”, analisou João Candido.
O texto de apresentação do projeto é da diretora técnica, Christina Penna, que também fez a genealogia do Projeto Portinari. No texto de apresentação ela comenta que a primeira reunião aconteceu no dia 2 de abril de 1979. O objetivo era, segundo ela, localizar e catalogar a obra de Candido Portinari, assim como toda a massa documental relativa a sua obra e vida, de forma a preparar a edição do Catálogo Raisonné da obra do pintor. Para iniciar este trabalho, o Projeto Portinari buscou referências externas, sobretudo no formato adotado pelo historiador de arte Francis O’Connor, um dos principais responsáveis pelo raisonné da obra do pintor expressionista abstrato americano Jackson Pollock. Para O’Connor “um catálogo raisonné, dentre todos os tipos de monografias e estudos, é a mais definitiva e completa fonte sobre a obra de um artista”. A metodologia da Unesco também foi consultada na conceituação da publicação.
Um dos elementos originais adotados pela equipe para contextualizar a apresentação de cada uma das obras foi à descrição empregada nos verbetes. Ao estabelecer critérios para a pesquisa do Projeto Portinari, a equipe também alicerçou, conjuntamente, o conteúdo do Catálogo Raisonné. O ponto de partida das pesquisas foram os álbuns nos quais D. Maria Portinari registrou o trabalho do marido desde quando se casaram. Nos álbuns foram encontrados recortes de jornais e revistas, catálogos de exposições, livros, fotografias, filmes e “memorabilia” (material de trabalho, tais como pincéis, tubos de tinta, paletas, compassos etc.) totalizando, na época, cerca de 15.000 documentos.
O acervo reunido pelo Projeto Portinari representa hoje num dos mais importantes arquivos multimídia existentes sobre a história e a cultura brasileiras do século XX, especialmente entre as décadas de 1920 a 1960. João Candido comentou uma das descobertas importantes foi da tela “Baile na Roça”, a primeira obra do artista com temática brasileira, pintada no início da década de 1920, desaparecida desde então, e procurada por Portinari durante toda sua vida. Outra obra localizada nesta fase foi um pequeno retrato, encontrado com um colecionador carioca, com a inscrição do próprio punho de Portinari – “Meu Primeiro Trabalho”. Catálogo Raisonné de Candido Portinari inclui ainda uma biografia do pintor, textos avulsos, bibliografia, índices remissivos e um catálogo em CD-ROM contendo todos os índices, material de apoio à leitura e estudo do catálogo, com uma ferramenta de busca permitindo recuperar obras a partir de sua descrição em palavras, entre outras chaves como título, data, técnica, tema.

Quem foi Candido Portinari?

Candido Portinari nasce numa fazenda de café, na cidade de Brodowski no Estado de São Paulo, no dia 29 de dezembro de 1903. Seus pais foram os imigrantes italianos, Batista Portinari e Domênica Torquato, que tiveram 12 filhos.
Portinari começou a desenhar em 1909. No ano de 1912, participou, durante vários meses, os trabalhos de restauração da Igreja de Brodowski, ajudando os pintores italianos a "Dipingere Le Stelle". Mais tarde auxiliou um escultor frentista. Em 1914, desenha a lápis, o retrato do músico, Carlos Gomes( cópia feita de um maço de cigarros).
Muda-se para o Rio de Janeiro, onde estuda no Liceu de Artes e ofícios e na escola Nacional de Belas Artes. Na década de 50, viaja para a Itália e expõe seus trabalhos na XXV Bienal de Veneza. Foi premiado pelo Painel Tiradentes, com a medalha de Ouro da Paz do II Congresso Mundial dos Partidários da Paz em Varsóvia.
Candido Portinari teve suas obras apresentadas em quase todos os países. Pintou obras sacras para diversas Igrejas do Interior do Estado de São Paulo e vários painéis para agências bancárias no Brasil e do mundo. Foi casado por 30 anos e separou-se em 1960.
É o único artista brasileiro a participar da exposição 50 Anos de Arte Moderna, no Palais des Beaux Arts, em Bruxelas, em 1958. Como convidado de honra, expõe 39 obras em sala especial na I Bienal de Artes Plásticas da Cidade do México, em 1958. No mesmo ano ainda, expõe em Buenos Aires. Em 1959 expõe na Galeria Wildenstein de Nova York e, juntamente com outros grandes artistas americanos como Tamayo, Cuevas, Matta, Orozco, Rivera, participa da exposição Coleção de Arte Interamericana, do Museo de Bellas Artes de Caracas. Envolvido no trabalho para a exposição de Milão, descuida-se de vez de sua saúde.
Candido Portinari morreu no dia 06 de fevereiro de 1962, quando preparava uma grande exposição de cerca de 200 obras a convite da Prefeitura de Milão, vítima de intoxicação pelas tintas que utilizava. Seu corpo foi velado no Ministério da Educação, de onde sai o enterro, com grande acompanhamento.

Serviço:
Candido Portinari - Catálogo Raisonné
Preço de capa: R$ 2 mil
Projeto Portinari - (21) 3114-1439/1440.
E-mail: pp@portinari.org.br
Site: http://www.portinari.org.br/
*Matéria publicada no caderno Show do jornal O Norte em agosto de 2004.