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segunda-feira, novembro 22, 2021

Música paraibana aquece debate nas redes sociais

Na semana passada um fato movimentou as redes sociais da cultura paraibana quando o músico Totonho reclamou em seu perfil social sobre o não pagamento do cachê da apresentação em dia, como combinado, por parte da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope). 

O show abriu um dos projetos musicais, numa das muitas tentativas de retomada do movimento cultural na cidade, que já começa a se enfeitar de turistas para o verão que se aproxima. Totonho se apresentou com sua banda “Os Cabras”, na Casa da Pólvora, que tinha um dos melhores projetos culturais de verão, coordenado pelo jornalista e produtor cultural Chico Noronha e outros. 

O diretor da divisão de música da instituição promotora do evento, Dida Fialho, outro músico de grande quilate, respondeu ao músico Totonho, em suas redes sociais de forma um tanto impensada, jogando na cara do “cabra da peste” Totonho o tudo que havia feito pelo músico, inclusive, a doação de cesta básica e perfume no período da pandemia. 

A Funjope, que outro dia teve uma das salas incendiadas devido à falta de manutenção de um ar condicionado, explicou que o não pagamento do cachê se deu pelo fato de que o artista ainda não havia deixado por completo a documentação para que seu processo de pagamento andasse como deveria. Pegando o gancho neste episódio lamentável, pois os músicos envolvidos no “quiprocó” são profissionais de qualidade do qual tenho o maior respeito, admiração e consideração, mas, não poderia deixar de dizer que fiquei triste, pois, como amante da cultura local e frequentadora dos eventos vejo o “futuro reviver o passado”, como diz a canção. 

Pensava eu, na minha ingenuidade, que fatos como estes de não pagamento de cachê e salário já haviam ficado no passado. Na época em que trabalhava no caderno de cultura “Show” do extinto Jornal O Norte, íamos aos shows de verdade prestigiar nossos artistas, visitamos as exposições de arte, íamos ao teatro sentar na primeira fila e escrever sobre o espetáculo no outro dia, coisa que hoje não se faz mais, não existe mais a cobertura dos eventos na cidade. Tudo se resume a um agendão e o diálogo para seu desenvolvimento passa longe, se tornou raso e acusativo mais virtual do que real. 

Esse acontecimento nos faz querer questionar várias coisas: Primeiro, porque o artista subiu no palco sem ter toda a documentação conferida pela instituição? Por acaso isso aconteceria se artistas nacionais como Alcione, Martinho da Vila, Sandy e Júnior e outros tantos breganejos de sucesso? Segundo: Onde estão os conselheiros de cultura das instituições para defender os artistas? Terceiro: E as políticas públicas culturais estão sendo criadas e defendidas pela câmara de vereadores? E o Ministério Público tem olhado para os nossos artistas? Quarto: E a comunicação? Cadê o assessor de imprensa cultural das instituições para responder ao público e ao artista no lugar do diretor de divisão música? Esqueceram do coitado. 

Cadê a imprensa cultural minha gente para defender nossa cultura? Parece que tudo isso acabou, vivemos no limbo da eterna ausência. Lamentavelmente nossos artistas estão passando necessidade e com a pandemia o quadro se agravou e muito pouco tem sido feito por eles. Artista precisa de cesta básica sim, precisa de plano de saúde, aplauso, reconhecimento, de perfume e flores, mas precisa sobretudo de políticas públicas culturais sérias, muito bem definidas e transparentes que garanta o presente e pense no futuro dela, sim no futuro, porque artista também envelhece e precisa ser cuidado da mesma forma como patrimônio vivo e memorável. Política cultural misturada com arte é uma bomba de Hiroshima pronta a ser detonada a qualquer momento e não dá para ficar tratando em segundo plano mais. Infelizmente muito pouco ainda está sendo feito. E se está sendo feito onde está sendo divulgado? De forma real, virtual ou hibrida como é a cultura em algumas áreas? 

 Para não dizer que estou falando só desse caso isolado acontecido recentemente basta olharmos para Orquestra Sinfônica da Paraíba (OSPB), cadê ela? Onde estão os concertos musicais de câmara, os solos, duetos para pequena plateia que poderiam acontecer agora? A orquestra vai ou não passar pelo processo de publicização como na Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA), de Sergipe, Espirito Santos e outras? Uma discussão antiga que existia nos bastidores da cultura e que nunca foi levada a frente. Política cultural é um direito senhores gestores políticos e deve ser levada a sério. Música não serve apenas para animar seus palanques no período eleitoral. Mas, é ela um direito das pessoas, está expressa na constituição brasileira desde 1988 e desde a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), concebe-se a cultura como um direito a ser preservado e respeitado. 

A Agenda 21 da Cultura visa o comprometimento dos governos locais sobre o desenvolvimento cultural e na reformulação de suas políticas. O foco da Agenda 21 é a descentralização de tais políticas e de seus recursos. A cultura é uma área polêmica por natureza devido a sua diversidade, fluidez e imaterialidade. As discussões muitas vezes são permeadas por partidarismos e debates de fundo apenas ideológico ou de ordem pessoal, muitos esquecem que ela é também permeada por princípios que vem da justiça, de valores derivados da filosofia e sobretudo é papel do Estado a implementação de políticas que envolvam pessoas ligadas diretamente a área. Sabe-se que os desafios para consolidação de políticas culturais nunca foram triviais. Requer esforço daqueles que reconhecem a sua importância para a sociedade, para política e para economia. 

As reflexões que hoje trago aqui neste espaço cedido com muita gentileza, mesmo as mais críticas, reflete um pouco nossa realidade e deseja chamar atenção para necessidade de que mais pessoas se envolvam e fortaleça as instituições e as políticas de incentivo às atividades culturais no país, no Estado e no município, pois cultura em todas as esferas também ganha eleição. 

 Publicado no site Parlamento PB - https://bit.ly/3CMhoyC.

A pandemia da cultura

    


















    Entretenimento, lazer, diversão ou cultura o fato é que me coloquei a pensar nos efeitos da pandemia e a forma de consumir esses bens daqui para a frente. Fico pensando como será que os teatros, museus, pubs, festivais, boates, eventos esportivos vão caminhar ou se irão permanecer apenas no “on line” e não mais no presencial por parte das empresas e das pessoas? Aos poucos vamos vendo os espaços de arte abrirem as portas, os artistas saírem de suas tocas para ir aonde o povo está. Mesmo assim o que tenho sentido por aqui é uma abertura, um tanto tímida, de alguns lugares.

    Os produtores culturais, que resistem ainda bravamente a essa pandemia, vão ter um esforço dobrado para agradar e trazer esse público de volta. Também precisam ter em mente que o comportamento do público não é mais o mesmo e que um evento em lugar “semiaberto” tem gerado pânico e medo em algumas pessoas, sem falar no preço das entradas, que na pós-pandemia deverá aumentar significativamente. É preciso reinventar, mudar, se adaptar a uma série de novidades e desejos que foram postos a prova com a pandemia do Sarscov2.

    É preciso um olhar humano também e isso as empresas de música, como por exemplo, o Spotify, percebeu de imediato. Na plataforma de música Spotify, hoje a mais consumida, organiza o repertório em gêneros rock pop, sertanejo, MPB, música católica, música evangélica, mas também pensa nos estados emocionais da pessoa naquele dia, como música para lavar louça, música para dormir e músicas que reflitam sensações como alegria, tristeza, concentração, etc. A experiência sensorial vem de imediato ao seu estado de espírito. Essa mudança da forma de se escutar música fez como a empresa obtivesse em 2021 uma “patente do processo de análise das emoções do usuário consumidor” recomendando, inclusive, o que você pode escutar a seguir. 

    Nestes dados foram coletados o estado emocional e a análise de maneira de falar e ainda informações contextuais, ou seja, o local onde o sujeito se encontra, se na praça, no parque, em casa, no banho, no shopping, na praia, se está sozinho, viajando ou está grupo. A pandemia também trouxe, muito forte, para dentro da música os remix. Hoje não importa mais o que está sendo remixado, quem é o autor, qual gênero e significado original. O que interessa mesmo é exibir e ostentar, manipular o conteúdo original tecnologicamente, contanto que isso traga para o indivíduo experiências sensoriais “novas”. 

    Para alguns não interessa se a obra de arte reproduzida se parece com o modo e estilo de Frans Krajcberg, o que vai importar é a manipulação em si, ou seja, não importa se a obra de arte foi reproduzida ou é mais importante que uma selfie. Sobre pensar as emoções dentro da cultura basta ver o famoso Tik Tok que hoje está linkado as plataformas instagram e facebook. Tudo é imagem e a imagem virou ao mesmo tempo objeto da cultura. É tanto que existem cursos sobre TikTok voltados para negócios e que tem seduzido os profissionais que querem conseguir mais likes e visualizações.

    No TikTok você não precisa ser bonito, saber falar bem, basta ficar calado e experimentar os diversos filtros e formas de edição dessa imagem capturada. A plataforma se tornou uma grande diversão e entretenimento, a começar pelas crianças que não brincam mais de bola de gude, ou pega-pega no jardim, mas a brincadeira e lazer favorito deles é “brincar de TikTok” fazendo dancinha com uma música de Madonna remixada. Não precisa de texto, não precisa ter conteúdo, mas apenas a imagem e a música devem refletir meu estado emocional do dia. Alguns psicólogos dizem que o apelo nesse tipo de mídia cultural é direcionado para o emocional, para atingir o inconsciente, não o racional. Entramos numa era em que os artefatos culturais midiáticos, as séries longas da televisão também vistas pelo celular, estão sendo mais interessantes do que pagar o preço exorbitante num bilhete de entrada de uma casa de show. Como dizem os psicólogos “tudo se resume a um jogo duplo de dopamina”, em que de um lado estão as ferramentas tecnológicas, aonde posso editar e manipular da minha maneira e fazer minha cultura dá certo, de outro a sociabilidade do riso, do congraçamento, de encontrar pessoas no meio da rua sem medo, sem ansiedade e sem pagar preços altos para me divertir.