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terça-feira, abril 09, 2024

Laboratório Muderno retorna aos palcos da música independente paraibana

       Após uma parada momentânea a banda Laboratório Muderno retorna a cena musical independente de João Pessoa nesta sexta-feira (12) no Parahybar, localizado no bairro do Castelo Branco. Os ingressos estão disponíveis no Sympla, com preços acessíveis, prometendo um espetáculo acessível e imperdível para todos os amantes da música.

            A banda surgiu em 2013, entre os guetos musicais da Universidade Federal da Paraíba e do centro de João Pessoa. O primeiro encontro aconteceu em uma jam sessions no beco da Cacharia Philipéia, um local conhecido pelos encontros após o "Sabadinho Bom". Semente germinada, a banda rapidamente se tornou sinônimo de inovação e diversidade musical na cena independente da cidade.

            Com um repertório que passeia por Rock, Samba-rock, Funk/Soul e Brega/Rock, a banda construiu uma identidade única, embalada pelas diversas influências de seus membros. Geanne Lima, com sua voz marcante, Kaio Cajon na bateria pulsante, Danilo no baixo groovado e Fabiano Silva com riffs de guitarra que capturam a essência do rock clássico, formam o núcleo criativo que impulsiona o grupo.

            Apesar da pausa em 2018 e dos desafios impostos pela pandemia de Covid-19, em 2020, que adiou o tão esperado retorno da banda, 2024 marca uma nova fase para a Laboratório Muderno. Este ano, eles retomam os palcos não apenas com o vigor de antes, mas com novas composições e releituras audaciosas que prometem renovar e energizar o cenário musical.

            O repertório atual inclui homenagens a ícones da música brasileira como Tim Maia, Roberto Carlos e Jorge Ben, além de interpretações emocionantes de sucessos de Raça Negra, Marília Mendonça, Maysa e Diana. Essas releituras demonstram não só a versatilidade da banda, mas também uma profunda reverência pela rica história musical do Brasil.

            A volta da Laboratório Muderno não é apenas um evento musical; é um reavivamento da paixão e do compromisso com a música independente brasileira. Com os olhos no futuro e o coração nas raízes do passado, a banda está pronta para escrever o próximo capítulo da sua jornada extraordinária. Prepare-se para uma noite de celebração e renascimento musical no coração de João Pessoa!

 

Entre ruídos e harmonias


       A música independente no Brasil, como um reflexo da evolução artística e da transformação tecnológica, passou por várias metamorfoses ao longo das décadas. Cada período histórico trouxe suas características distintas, moldadas por contextos sociais e avanços tecnológicos. Ao comparar a música independente brasileira contemporânea com as de décadas anteriores, observamos tanto continuidades quanto rupturas significativas.

            A autonomia que se tem hoje em termos tecnológicos mudou bastante. Até os anos 90 e início dos 2000, produzir música de maneira independente era uma tarefa árdua e dispendiosa. O acesso a estúdios de gravação era limitado e caro, o que restringia a produção musical a quem pudesse arcar com tais custos ou tivesse acesso a esses espaços por conexões na indústria.

            Hoje com a tecnologia digital, a barreira do acesso à produção musical foi reduzindo. Softwares de produção musical, gravação em casa e plataformas de distribuição digital permitem que praticamente qualquer um com um computador e uma conexão à internet produza e divulgue sua música. Isso democratizou a música independente, expandindo o que é possível dentro desse espaço. Mas, mesmo com esse aparato todo as dificuldades ainda continuam.

Nas décadas de 1980 e 1990, a música independente brasileira estava fortemente ancorada no rock e suas vertentes, com bandas como Os Mutantes e Titãs dominando o cenário. Havia uma forte influência dos movimentos globais de rock, punk e metal. A diversificação de estilos é uma das marcas da música independente moderna. Além do rock, gêneros como hip-hop, funk, música eletrônica, e até sertanejo (vixi...) e forró ganharam espaço no cenário independente. Essa mistura de gêneros reflete a globalização cultural e a facilidade de acesso a diferentes tipos de música através da internet.

A distribuição de música independente era predominantemente física, por meio de vinis, fitas cassete e CDs, vendidos em shows, por correio ou em lojas especializadas. Isso limitava o alcance das produções a nichos específicos e geograficamente restritos. Hoje as plataformas de streaming e redes sociais revolucionaram a maneira como a música é distribuída e consumida. Artistas podem alcançar ouvintes em todo o mundo com apenas alguns cliques, e a descoberta de novos talentos é facilitada por algoritmos que sugerem música com base nas preferências do usuário. Isso ampliou enormemente o alcance potencial dos artistas independentes.

Mudou ou ficou “muderna” a relação com o público que antes tendia a ser intermediada por gravadoras, mesmo no cenário independente, com artistas dependendo de performances ao vivo e cobertura da mídia especializada para ganhar visibilidade. A interação direta nas redes sociais transformou essa dinâmica, permitindo aos artistas construir e manter uma base de fãs de maneira mais direta e pessoal. Isso não apenas facilita a formação de uma comunidade leal ao redor do artista, mas também permite que o público tenha um papel mais ativo no suporte à carreira do artista por meio de crowdfunding e outras formas de apoio direto.

A música independente brasileira de hoje beneficia-se das tecnologias digitais, tanto na produção quanto na distribuição. Isso possibilitou uma diversificação sem precedentes de estilos e uma democratização do acesso ao mercado musical. Entretanto, essa facilidade também trouxe desafios, como a saturação do mercado e a dificuldade em se destacar em um mar de novos artistas. Comparativamente, a música independente de décadas passadas tinha desafios logísticos e financeiros maiores, mas enfrentava menos competição. Em cada era, os artistas independentes continuam a desafiar os limites do mercado musical, adaptando-se e respondendo às mudanças do seu tempo.

Texto: Adriana Crisanto Monteiro

Fotos: Marcelo Rodrigo