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segunda-feira, janeiro 16, 2006

O retorno da Cor do Som

Para o deleite de alguns poucos admiradores o grupo A Cor do Som está de volta. Isso mesmo. Para marcar o retorno, a banda se reúne nesta quarta-feira, 24 de agosto, para a gravação de um DVD e CD acústicos, no Canecão, no Rio de Janeiro. No último sábado (20) eles marcaram presença no programa do jornalista Serginho Groisman, da emissora Rede Globo de Televisão, onde tiraram todas as dúvidas quanto a sua volta.
Participam desta gravação como convidados Moraes Moreira, que deu o nome à banda, o filho Davi Morais e a cantora Ivete Sangallo. O cantor Caetano Veloso, autor da música Leãozinho, dedicada ao baixista da banda, Dadi Carvalho, está sendo cogitado para a apresentação, mas, segundo Armandinho, sua presença ainda não foi confirmada.

O show terá direção do performático Jorge Fernando, o cenário está a cargo de Zé Carrato, que entre outros trabalhos, assinou a cenografia do DVD do grupo Ira!. A formação da banda será a mesma desde o início, com Dadi Carvalho (baixo), Armandinho Macêdo (guitarras), Mú Carvalho (piano e teclado), Gustavo Schroeter (bateria), Ary Dias (percussão). Para este show a banda receberá o reforço de Jorginho Gomes, irmão de Pepeu Gomes, Marcos Nimrichter (acordeon).
Tanto o CD quanto DVD serão lançados ainda este ano pela gravadora Performance Be Records e distribuição feita pela Som Livre. Após a gravação a banda sairá em turnê pelo país. A primeira parada será no dia 3 de setembro no Olympia em São Paulo.
Após quase 13 anos está é primeira vez que a banda se reúne e decide voltar em grande estilo. O último trabalho da banda foi “A Cor do Som – Ao vivo no Circo”, gravado em 1996, no Circo Voador no Rio de Janeiro, uma espécie de prévia. Alguns anos se passaram e só agora eles decidiram retornar. Em sua última apresentação em João Pessoa, no Projeto Seis e Meia, o guitarrista Armando Macedo (Armandinho) não se revelava muito animado com o retorno, mas após turnê pela Europa com seu trabalho solo (Armandinho toca Tom Jobim) o guitarrista cogitou a possibilidade de retorno à banda.
Fãs de todo Brasil estão se mobilizando para o retorno da banda e estão indo quase que em comboio para o Rio de Janeiro assistir a este retorno inédito. A geração que acompanhou A Cor do Som ainda pegava carona na ideologia da década de 1960.
Admiradoras da banda desde quando surgiu a Relações Públicas Maria Helena Lopes, a fonoaudióloga Rosana Lourenço e Claudia Quintas estão de passagem comprada para Rio de Janeiro. Elas moram em Santos, litoral paulista, e comemoram o retorno da banda. Maria Helena Lopes acredita que à volta da Cor do Som, seja uma das melhores novidades no cenário musical atual. “Numa época onde as "eguinhas pocotós" proliferam, escutar música de verdade, é um bálsamo para qualquer ouvido, com um mínimo de sensibilidade”, comentou.

História da banda - O grupo surgiu no cenário artístico em 1977, criando uma linguagem instrumental pioneira, através da fusão de ritmos regionais brasileiros e rock. Até 1975, Dadi e Moraes Moreira faziam parte dos Novos Baianos. Com a dissolução do conjunto, Moraes iniciou sua carreira individual. Para acompanhá-lo em shows e na gravação de seu primeiro disco solo, convidou Dadi (baixo), Armandinho (guitarra baiana) e Gustavo Schroeter (bateria).
Os três instrumentistas atuaram durante dois anos com o cantor, até que decidiram partir para um trabalho próprio. Por sugestão de Caetano Veloso, adotaram o nome A Cor do Som, utilizado anteriormente quando Dadi tocava com Os Novos Baianos. Para completar a formação da banda, os músicos convidaram o tecladista Mú Carvalho, irmão de Dadi, que havia participado da gravação de uma das faixas do primeiro disco de Moraes. Com essa formação, o grupo se apresentou pela primeira vez no Festival Nacional do Choro em 1977, interpretando "Espírito infantil" (Mú Carvalho), classificada em 5º lugar.
A apresentação, introduzindo ousadamente instrumentos elétricos na interpretação tradicionalmente acústica do chorinho, despertou o interesse da imprensa e do público para o potencial e a criatividade que viriam a se tornar a marca registrada da banda. O grupo, acrescido do percussionista Ary Dias, foi contratado, em seguida, pela gravadora Warner, que lançou neste mesmo ano o LP "A Cor do Som", primeiro disco de sua carreira.
Em 1978, o conjunto foi convidado a se apresentar no Festival Internacional de Jazz de Montreux (Suíça), sendo a primeira banda brasileira a participar desse evento. A apresentação foi gravada ao vivo e gerou o LP "A Cor do Som, ao vivo, no Montreux Internacional Jazz Festival".
No ano seguinte, o grupo fez show no Parque do Ibirapuera (SP) para um público de 60.000 pessoas Também em 1979, gravou o LP "Frutificar", com destaque para "Beleza pura" (Caetano Veloso), "Abri a porta" (Gilberto Gil), "Swing menina", (Moraes Moreira e Mú Carvalho) e a faixa-título, instrumental de Mú Carvalho, entre outras.
Em 1980, lançou o LP "Transe total", que registrou a maior vendagem da carreira do grupo. No repertório, destaque para "Zanzibar" (Armandinho), "Palco" (Gilberto Gil) e "Semente do amor" (Mú Carvalho). Em 1981, gravou "Mudança de estação" e se apresentou em concerto no Baterry Park de Nova York.
Dividido com seu trabalho no Trio Elétrico de Dodô e Osmar, Armandinho desligou-se do conjunto no ano seguinte, sendo substituído pelo guitarrista Victor Biglione. Com a nova formação, a banda gravou os discos "Magia tropical" (1982) e "As quatro fases do amor" (1983).
No ano de 1984, o guitarrista desligou-se do conjunto e Dadi assumiu a guitarra na gravação do LP "Intuição", que contou com a participação especial de Egberto Gismonti e Túlio Mourão, além de Perinho Santana, que viria a compor a nova formação do conjunto. No ano seguinte, o grupo gravou o LP "O som da Cor", vindo a se dissolver em seguida. Em 1996, a banda se reuniu, com a formação original, e gravou o CD "A Cor do Som ao vivo no Circo", pelo qual recebeu, no ano seguinte, o Prêmio Sharp, na categoria Melhor Grupo Instrumental.

Discografia:

ü A Cor do Som (1977) Warner LP
ü A Cor do Som ao vivo no Montreux International Jazz Festival (1978) Warner LP, CD
ü Frutificar (1979) Warner LP, CD
ü Transe total (1980) Warner LP
ü Mudança de estação (1981) Warner LP
ü Magia tropical (1982) Warner LP
ü As quatro fases do amor (1983) Warner LP
ü Intuição (1984) Warner LP
ü O som da Cor (1985) Warner LP
ü Gosto do prazer (1987) RCA Victor LP, CD
ü A Cor do Som ao vivo no Circo (1996) Movieplay CD

Adriana Crisanto
adriana@jornalonorte.com.br
## Matéria publicada no dia 23 de agosto de 2005, no caderno Show do Jornal O Norte.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Música para trombones


Com repertório bem mais popular o grupo de trombonistas paraibanos Brazilian Trombone Ensemble (BTE) lançaram na última quinta-feira (19), no Cine Bangüê do Espaço Cultural José Lins do Rego, o segundo disco do grupo intitulado “A Little Bit of Brazil” (Um Pouquinho de Brasil), uma produção fonográfica do selo-gravadora CPC-Umes (R$ 20,00).
O show - inserido no projeto Quintas Musicais da Fundação Espaço Cultural (Funesc) -, o grupo tocou não apenas músicas do CD, mas duas que não foram incluídas no disco (Hey Jude e May Way). Com muita descontração eles fizeram o trombone, um instrumento desengonçado no seu visual, virar uma cuíca. Tudo isso acompanhado de perto pelo teclado que em nenhum momento agrediu os trombones, os donos da festa, e por uma cozinha (bateria) na marcação exata. A mesma apresentação foi realizado há seis semanas em Nova York, com casa cheia.
No repertório do disco constam músicas de Cazuza, Dominguinhos, Gilberto Gil, Djavan, Ary Barroso, Tim Maia, Milton Nascimento, Francisco Ferreira Lima e outros. No início existiam duas músicas internacionais, mas devido a questões relativas aos direitos autorais fizeram com que fossem incluídas apenas músicas brasileiras.
Mais do que um grupo de instrumentistas com vontade de serem reconhecidos e darem certo o BTE pode até nem trazer nada de novo para música instrumental, como se referiram os especialistas em música, mas são o mais novo paradigma para a nova geração de musicistas (que se fez maioria na apresentação de quinta-feira), cuja principal característica é fazer com que a música instrumental seja reconhecida e tocada.
O BTE existe como idéia há mais de três anos. Após alguns ensaios independentes eles foram convidados pela CPC-Umes para entrar no elenco da gravadora. Para o diretor artístico do selo-gravadora, Marcus Vínicius de Andrade, o disco surge como uma verdadeira celebração à popularização do trombone no Brasil.
“Um Pouquinho de Brasil” foi concebido e gravado em moldes semelhantes ao anterior (“Desafios”), e contou com a parceira da fábrica de instrumentos musicais Weril, do professor Gilberto Gagliardi, que desenvolveu um projeto de qualificação, desenvolvimento e promoção da marca do instrumento. O disco anterior chegou no mercado no início de 2003 e fechou o ano como um dos CD’s mais vendidos.
Mestres em seus instrumentos, os integrantes do grupo fazem malabarismos com o trombone como na música “Mambo Jambo”, de autoria de Damasco Pérez Prado e “Isto Aqui, O que é?” (Ary Barroso) que teve que contar com uma pequena introdução antes de cair direto na música.
Para quem está com tímpanos calejados de rock, jazz e blues a audição do disco é no mínimo prazerosa. Por outro lado, o BTE não abandonou a esfera erudita do instrumento, como pode ser ouvida na quinta faixa, “Tema da Vitória”, de autoria de Eduardo Souto Neto e na introdução de “O que é o que é” de Gonzaguinha.
A “fusion” entre erudito e popular, tão comum hoje no Nordeste, não se acomoda em stands óbvios e estão sempre alcançando interpretações emocionantes e dançantes, como na música “Andar com Fé” (Gilberto Gil). Para a gravação de “Um Pouquinho de Brasil”, o grupo contou com a participação de Glauco Andreza (percussão), Roberto Muniz (teclados), Sérgio Gallo (baixo), com arranjos do maestro Duda.
Nos trombones estão os músicos: Radegundis Feitosa (tenor Weril GGPlus), Sandoval de Oliveira (GG83 da Weril), Renato Farias (GG86 jateado), Roberto Ângelo (Weril GG83), Gilvandro Perreira (Weril GG83), Stanley Bernardo (trombone baixo GG96).
Radegundis Feitosa, que também é diretor artístico do grupo, disse que cada música selecionada revelou ser portadora de uma mensagem importante, merecedora de atenção particular. De acordo com ele, a escolha da música “Brasil” para figurar logo na primeira faixa não deixa de ser um estímulo para que as pessoas participem de uma grande festa para fazer do Brasil o país com que sonham os brasileiros. “Não importa quanto trabalho ou luta tenhamos de enfrentar”, relatou no encarte do disco, ilustrado com fotografias de Moema Cavalcanti.
O Brazilian Trombone Ensemble (BTE) é um sexteto de trombone. Eles são dissidentes do Quarteto de Trombones da Paraíba, formado no início por Sandoval Oliveira, Roberto Ângelo, Gilvandro Pereira e Stanley Bernardo. O nome surgiu da necessidade de posicionar melhor o grupo no mercado internacional, onde atuam com freqüência. A idéia para a composição do BTE aconteceu em fevereiro de 2001, durante o Encontro Nacional de Trombonistas. Conforme Radegundis Feitosa, nesta mesma época, todos os músicos estavam envolvidos com o professor Gagliardi, o que facilitou bastante a integração.
O grupo já participou do Festival Internacional de Trombones (32a edição), em Helsink, na capital da Finlândia. Segundo Radegundis a grande proposta de festivais internacionais é evitar a competição desnecessária, mas, mostrar o que de novo anda acontecendo no mundo.
O CD pode ser adquirido pela internet, através do endereço eletrônico http://www.umes.org.br/.

Serviço:
Música para Trombones
Lançamento: Um pouquinho de Brasil – Brazilian Trombone Ensemble
Gravadora: CPC-Umes
www.umes.org.br
cpcprod@umes.org.br
##Matéria publicada no caderno Show do jornal O Norte, João Pessoa, Paraíba, em 2004.

O Ecad vai malhar

Era só o que faltava...
Parece que o Ecad agora quer malhar...
O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD) decidiu, na semana passada, dar parecer favorável a mais uma decisão sobre a arrecadação de direitos autorais no segmento de academias de ginástica. A decisão partiu quando o Ecad do Rio de Janeiro moveu uma ação contra a academia de Judô Clube J. Cardoso, onde a instituição pleiteava pagamento da retribuição autoral pela execução pública de obras musicais nas dependências da academia, além de uma multa prevista no Art.109 da Lei 9.610/98.Na Paraíba medidas como está ainda não foram tomadas, mas os advogados do Ecad Paraíba estão estudando os textos para que a lei seja cumprida.
O representante do Ecad na Paraíba, Euclides Dias Sá, disse que existe uma lei em tramitação e que os diretos autorais serão cobrados pela União. “Isso significa que o usuário vai ter que pagar mais”, lembrou o representante que é a favor da propriedade intelectual do autor.Para casos como este as multas são cobradas medindo o tamanho da área do estabelecimento, variando de ambiente.
Muitos proprietários de academias de ginástica de João Pessoa desconhecem a existência da lei e do caso do Rio de Janeiro. Um dos poucos empresários que se dispôs a falar sobre o assunto foi o professor de Educação Física José Florentino da Academia Corpore, que também considera as ações do Ecad um tanto quanto abusivas e diz que é preciso levar este tipo de discussão ao usuário das academias que será o maior prejudicado com no final de tudo. “E as músicas que são baixadas da internet?”, questionou o professor.
Para o empresário da Academia Equilíbrio do Corpo e professor de Educação Física, Wander Ferreira Coelho Júnior, as academias investem na qualidade dos professores e equipamentos, a música, segundo ele, é apenas um complemento para animar o ambiente e dar qualidade ao serviço que é prestado ao aluno.Os advogados do Sindicato dos Proprietários das Academias de Ginástica da Paraíba, que não quiseram se identificar, dizem está cientes das ações que estão tramitando. O que está acontecendo, segundo eles, é que o Ecad da Paraíba está pedindo que os proprietários das academias compareçam a sede da entidade para estudar cada situação. De acordo com os advogados algumas medidas, que eles não quiseram revelar, foram tomadas e em breve o sindicato estará repassando todas as informações para os empresários e usuários.
No caso do Rio de Janeiro, o Ecad obteve decisão favorável, em primeira instância, tendo sido apenas excluída a aplicação da multa. Porém, o Tribunal de Justiça do Rio deu provimento ao recurso do Ecad para que, além do direito autoral, a academia também efetue o pagamento da multa do Art. 109. A decisão da 10ª Câmara Cível, abre um importante precedente, pois além de reconhecer a legalidade e o profissionalismo da fiscalização exercida pelo Escritório, confere a necessária proteção do direito do autor sobre sua obra, tal como previsto na Lei 9610/98, contribuindo para que cada vez mais os usuários de música se conscientizem da importância do pagamento do direito autoral.
Academias de ginástica, por serem consideradas estabelecimentos comerciais, são obrigadas a pagar direito autoral. De acordo com as informações do Ecad do Rio de Janeiro, a música em uma academia de ginástica, dança e similares é essencial para as aulas e para sonorizar os ambientes.
Se não o fosse, as academias poderiam deixar de usá-la. Em uma aula de musculação, por exemplo, a música poderia ser absolutamente desnecessária, mas ela é usada para criar um ambiente melhor. As academias de ginástica fazem uso da música em suas atividades de forma a incrementá-las, tornando-as mais atrativas e, conseqüentemente mais rentáveis, por isso a obrigatoriedade do pagamento do direito autoral.Critérios de cobrança - O pagamento do direito autoral é realizado mensalmente e baseia-se na área sonorizada, nível populacional e região sócio-econômica onde o estabelecimento está localizado.
Quando houver nova utilização, que não seja a sonorização do ambiente já paga, ou seja, uma festa na academia, uma nova cobrança deve ser feita, pois a utilização da música tem outra finalidade. Neste caso, a cobrança da retribuição é feita de acordo com um percentual sobre receita (se houver cobrança de ingresso, por exemplo) ou área sonorizada.
Cinemas
A mesma situação aconteceu no ano passado com as salas de exibição de cinemas. O Ecad estava multando as salas que oferecesse música ambiente antes das sessões. O presidente do Ecad na Paraíba, Euclides Dias Sá, disse que todo ambiente que disponibilize música deverá ser notificado para que seja preservado o direito do autor.
O empresário do Cine Multiplex em João Pessoa, Paulo Santos, considera importante o cumprimento da lei, mas diz que a situação do Ecad é questionável e que as únicas músicas que tocam em suas salas são as trilhas sonoras dos filmes, que já está embutido na película.
Créditos:
Foto: Ana Crisanto - Academia do Corpo - Tambaú
##Matéria publicada no caderno Show do jornal O Norte, em 2004.

Lenine in Cité



Desde que se lançou no mercado, em 1983, com o disco “Baque Solto”, em parceria com Lula Queiroga, que o cantor e compositor pernambucano Lenine vem se destacando com uma música criativa e contagiante. A prova está num projeto musical intitulado “Lenine In Cité” que ela acaba de lançar respectivamente em CD e DVD, ao vivo, com distribuição da BMG.
O trabalho ao mesmo tempo em que inaugura o selo Casa Nove, do qual fazem parte algumas profissionais de sua produtora e gravadora, a Mameluco, integra o projeto anual “Carte Blanche”, que como o próprio nome indica, dá carta branca para que o artista possa jogar toda sua criatividade no palco.
A assessoria de Lenine afirma que o único artista brasileiro a participar do projeto tinha sido Caetano Veloso, que convidou Lenine para uma participação especial no concerto que também contou com a presença do poeta concreto Augusto de Campos. O disco foi gravado na badalada casa de espetáculos de Paris “Cite de la Musique”, em apenas dois dias do mês de abril deste ano.
Engana-se quem pensa que o trabalho é para ser consumido apenas por “cabeças pensantes”, mas é do jeito que os europeus gostam, ou seja, misturado de sons e tendências, em que se podem ouvir a percussão de um argentino, Ramiro Musotto, com um baixo tocado por uma cubana, Yusa e a voz de um leão do norte.
No CD estão incluídas 12 canções, destas músicas sete são inéditas, todas de Lenine em parceria com outros artistas, a exemplo de Ivan Santos, Carlos Rennó, Dudu Falcão, Paulinho Moska, o eterno parceiro Lula Queiroga, Arnaldo Antunes e três canções em parceira com o escritor e músico paraibano Bráulio Tavares, como “Virou Areia” (faixa seis), que apesar de ter sido gravada pelo grupo Batacotô e por Dionne Warwick, no álbum Aquarela do Brasil (1995) aparece neste trabalho como música inédita na voz de Lenine.
O disco é dedicado a Tom Capone, ex-produtor da cantora Maria Rita, falecido em acidente de automóvel este ano após premiação do Grammy Latino e que chegou ainda a mixar algumas canções do álbum. Na música “Todas elas num só ser”, faixa oito, Lenine solta o verbo e manda dizer que agora já não canta mais Xica, nem Tereza, Tigreza, Vera Gata, Ana, Laura de Daniel, o trovador, nem Gremilda de Jackson do Pandeiro, nem homenageia mais Januária, músicas no qual contém nomes de mulheres, e que hoje ele tem todas juntas num só ser.
A canção, que por sinal é enorme, cita de Bebete a Domingas, passa por Laly de Clapton, amada amante de Roberto Carlos, as loiras do É o Tchan. No mais é só conferir as músicas do repertório como: Rosebud, Relampio, Caribenha Nação, Do It, Vivo, Ninguém faz idéia, entre outras. O encarte também é muito bem produzido com fotos de Dalton Valério, tiradas durante a gravação do disco em Paris. No DVD estão incluídas, além das sete músicas, a canção “Crença”, que segundo Lenine, não se encaixa no roteiro do disco, uma vez que ele imagina um CD como uma história a ser contada e a música “Crença” não se enquadra neste perfil. Nesta produção Lenine optou por fazer um trabalho semi-acústico, em que mistura o seu violão midi, e permite que ele converse com seu VG8, onde estão armazenados os sons que se juntaram ao baixo elétrico e a percussão. Tudo foi muito bem captado, tanto o som quanto às imagens. “Tivemos pouco trabalho de pós-produção”, disse.
Mas os fãs do Lenine podem ficar tranqüilos que tão logo terminem o processo de divulgação deste trabalho ele volta a tocar com Júnior Tostoi, Pantico Rocha e Guila, sua banda de origem, o que é uma pena, pois esse trio é deveras perfeito para ficar gravado apenas num único projeto musical. A música de Lenine está para cultura nordestina assim como funk do Rio de Janeiro está para a cultura das ruas, e vem ao longo dos anos tendo grande receptividade para a nova música popular brasileira, se é que podemos dizer assim, e este trabalho dá uma mostra da sutil mudança do comportamento do mercado e do público que tem ajudado a formar uma platéia para a música improvisada, assim como as platéias dos jovens-adultos dos anos 60 e 70, que naquela época ouvia os improvisos de Hermeto Paschoal, Egberto Gismonti e ao mesmo tempo gostava de rock e da cultura popular ainda em processo de redescoberta.
A cada produção que é lançada no mercado, como está de Lenine, são mais evidentes e freqüentes nas músicas as improvisações “meia xamãs que contagiam platéias”, como se referiu uma jornalista da imprensa francesa. Isso acontece, principalmente, quando os artistas passam a ter uma bem sucedida experiência no exterior, que os ajudam a aprimorar mais está fusão e traz mais para perto, uma impossível simplicidade e ao mesmo tempo uma grande organicidade que não deixa desejar em nada aos patronos da bossa/jazz, mas se instaura numa nova categoria, uma nova língua musical expressa através da execução instrumental e apuramento da fala popular vinda do Nordeste.
Um olhar sobre a música de Lenine, que foi criado no quintal de João Pessoa ouvido os improvisos de um certo Pedro Osmar, nos dá oportunidade de passar a limpo algumas informações, e observar que a liberdade de improvisação, as elaborações de arranjos são dados cada vez mais evidentes da música brasileira básica.
###Matéria Publicada no Jornal O NORTE, Caderno Show, João Pessoa, Paraíba, em 2005.

Artista plástico Antônio Dias expõe na galeria de arte Amparo Sessenta em Recife no dia do artista plástico




No mesmo momento em que se comemora o Dia do Artista Plástico, nesta quinta-feira, 8, o artista paraibano Antônio Dias expõe uma série de novos trabalhos na galeria de Arte Amparo 60, em Recife, numa exposição que conta com o patrocínio da Lei de Incentivo Culturais do governo do Estado de Pernambuco. A mostra conta com obras inéditas de um respeitado artista plástico contemporâneo do Brasil e ficam expostas durante todo mês de maio. A exposição consta de múltiplos concebidos e realizados nas cidades do Recife e Olinda, durante uma série de visitas.
As obras de Antônio Dias têm como marca o rigor misturado com um certo ar de poesia. Nesta exposição são mostradas sete peças em cerâmica e bronze fundido. Uma série de casinhas de barro cozido que lembram o conjunto habitacional Cohab. Em entrevista ao caderno Show Antônio Dias explicou em nenhum momento pensou no lado sociológico da obra, mas, no mecanismo de interação entre a lógica construtiva popular e os conceitos que norteiam a produção.
A exposição tem ainda uma série de carrinhos de ferro fundido que ele a chamou “Carrinho Crítico”, moldados em areia na Fundição Capunga, no Recife, que parecem querer conceder uma modalidade física aos rígidos esquemas formais do artista. Fazem parte da mostra torres feitas em lata, uma versão sobre a apropriação dos dejetos de consumo diário do ser humano processado na forma de arte. “Há uma certa ironia no trabalho das casinhas. É um trabalho sobre idéias”, comentou. Há mais de 40 anos trabalhando com arte e uma bem sucedida carreira ele continua reinventando sua própria obra. A exposição é acompanhada de um catálogo com registro fotográfico de todas as obras expostas e texto inédito do curador e crítico Moacir dos Anjos. “Por serem os próprios objetos múltiplos, contudo, os elementos com que esboça um sistema de circulação em rede sujeito a rupturas que perturbam sua continuidade (seja a fragilidade das casas, a erosão dos carros ou a inacessibilidade às torres), terminam por também fazer, da truncada paisagem urbana que cria, modelo crítico para o circuito de arte” escreveu.
Depois de ter peregrinado por vários países o artista fixou residência na Alemanha, mas, diz que não esqueceu da Paraíba, sua terra natal. Antonio Dias nasceu em 1944, na cidade de Campina Grande. Na infância, viveu em várias cidades do Alto Sertão e da costa de Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Em 1957, se transferiu para o Rio de Janeiro. Freqüentou o Ateliê Livre de Gravura da Escola Nacional de Belas Artes, sob a orientação de Oswaldo Goeldi, e começou a trabalhar como desenhista de arquitetura e gráfico, fazendo ilustrações e desenhando capas de livros. A primeira exposição individual aconteceu na Galeria Sobradinho, Rio de Janeiro. Para o artista, suas pinturas nessa época trazem "uma arte abstrata, com formas e símbolos principalmente tirados da cultura indígena." No ano seguinte, ganhou o 1º Prêmio de Desenho do XX Salão Paranaense de Artes Plásticas.
Em dezembro de 1964, expõe na Galeria Relevo, Rio de Janeiro. O texto de apresentação do catálogo da mostra "Da torre de marfim à torre de Babel" é do crítico francês Pierre Restany. Desde então, não parou mais de produzir e crescer em sua arte. Antônio Dias disse que sabe da potencialidade dos artistas da Paraíba, mas, lamenta que não haja incentivo para que eles possam se desenvolver como devem. “Num lugar onde não existe um campo de trabalho o que podemos esperar é que os artistas saiam do Estado e busquem seus próprios caminhos”, comentou.
A primeira exposição individual européia aconteceu na Galerie Houston-Brown, Paris. No ano seguinte, participou da mostra Opinião 66, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Com bolsa do governo francês, passa a morar em Paris. “A minha relação com o universo cultural francês, nessa ocasião, passava por uma fase crítica. As obras de alguns artistas, então consideradas políticas, me desiludiram naquele momento porque pareciam panfletárias. Por outro lado, percebi que existiam modos de pensar muito mais interessantes. Li os primeiros textos de Robert Smithson que me fizeram dar uma parada para pensar. Foi um período em que fiz pouquíssimos objetos, como por exemplo, Solitário e Coletivo. Percebo que eram retratos de como eu estava: cubos pretos fechados por fora e vazios por dentro”, contou.
No meio dos anos 60 até 1978, desenvolve séries de trabalhos intitulados “A Ilustração da Arte”, onde utilizou meios diversos, tais como filme, vídeo, livro, fotografia, pintura e gravura. Os trabalhos têm uma proposta irônica e questionamentos sobre a produção, a distribuição e o consumo da obra de arte. Em 1973, realiza mostra individual na Bolsa de Arte, Rio de Janeiro. O cartaz da exposição traz a poesia "Constelário para Antônio dias", de Haroldo de Campos. No ano seguinte realiza individual no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em que apresenta as instalações: Poeta/Pornógrafo (dois semicírculos em néon); Conversation Piece (projeção simultânea de dois filmes em super-8); O Arquipélago e as Ilhas (diapositivo projetado sobre parede) e Marcação para Intérpretes Perigosos.
Antônio Dias foi professor convidado da Universidade Federal da Paraíba, e sob o aval da UFPB fundou o Núcleo de Arte Contemporânea, um grupo de trabalho cuja proposta é a difusão da arte contemporânea, nacional e internacional. Dando um salto na trajetória do artista plástico em setembro de 2000, o Museu de Arte Moderna de Salvador inaugurou a exposição Antonio Dias: O País Inventado, reunindo trabalhos dos últimos 30 anos da carreira do artista. A mostra “O País Inventado” seguiu itinerante para a Casa Andrade Muricy, Curitiba. Em 2001, sua mostra antológica é apresentada no Museu de Arte Moderna de São Paulo e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 2002, a mostra O País Inventado encerra sua itinerância no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife. Para as exposições em Fortaleza e Recife publica um novo catálogo, com texto do crítico pernambucano Moacir dos Anjos, intitulado "Construção de um lugar que não acaba".
(João Pessoa - Paraíba - Jornal O Norte - Caderno Show - Data: 7 de maio de 2003).

Armando Macêdo e voz do Bandolim

Adriana Crisanto
adriana@jornalonorte.com.br
O guitarrista baiano Armando Macedo (Armandinho) lançou este mês o terceiro disco solo de sua carreira. O CD é um instrumental para bandolim intitulado de Armandinho – A Voz do Bandolim, produzido pela gravadora Visom Digital. O repertório do disco é todo composto por músicas de Caetano Veloso e Gilberto Gil, que fizeram sucesso nas décadas de 70 e 80. Para os apreciadores da boa música instrumental contemporânea A Voz do Bandolim é um deleite para os ouvidos. Armandinho desliza nas cordas do bandolim e da guitarra baiana, ao mesmo tempo em que dar vida às canções de Gil e Caetano. Quem está acostumado a associar sua imagem a do trio elétrico vai se surpreender ao ouvir este novo trabalho.
Em entrevista por telefone ele comentou que a idéia do CD foi de sua mulher. De acordo com Armandinho, o projeto estava guardado há pelo menos cinco anos. Neste CD ele fez uma cuidadosa seleção musical e as executa como se tivessem sendo cantadas pelo instrumento. Para este projeto o músico contou com a participação do tecladista Fernando Moura, o percussionista Ary Dias e o baixista Eduardo Magalhães (Dadi). Os dois últimos ex-integrantes, junto com Armandinho, do grupo A Cor do Som.
Dentre as canções que fizeram maior sucesso nas vozes de Caetano e Gil estão: Expresso 222, Trilhos Urbanos, Se eu quiser falar com Deus, Você é linda, Procissão, Domingo no Parque, Luz do Sol, Drão, London, London, Qualquer Coisa, além de um pot-pourri de frevos rasgados na última faixa, a exemplo de A Filha da Chiquita Bacana, Atrás do Trio Elétrico, Chuva, Suor e Cerveja, Toda a Eletricidade, entre outras. Sobre os arranjos das músicas ele diz que para compor ficou imaginando Gal Costa cantando Luz do Sol e procurou reproduzir a voz dela para o bandolim e guitarra baiana. O resultado disso tudo é uma bela seleção de músicas bem conhecidas do público. Conforme Armandinho este disco é dedicado as mulheres, por ser romântico e trazer toda um arranjo melódico em cima das canções. Armandinho esta em fase de produção de mais disco instrumental, desta vez para guitarra baiana. Na informalidade ele comentou que gosta muito da Paraíba, não apenas pelo ritmo característico da região (o forró), mas, também pelos excelentes instrumentistas. O guitarrista contou que conhece em particular o trabalho do guitarrista Washington Espínola. “Eu tenho uns dois discos que ele me deu quando estive num show no teatro Santa Roza”, lembrou.
Quem é? – Armando da Costa Macedo, 49 anos, sempre foi rápido nas cordas, seja nas guitarras ou no bandolim. Ele começou sua carreira com apenas 10 de idade, ao se apresentar no Trio Elétrico criado por seu pai, Osmar Macedo. Suas bases musicais estão no frevo, no baião e no choro. Tudo que sabe sobre música aprendeu sozinho, intuitivamente, de ouvido. Segundo Armandinho, o velho Osmar brincava de fazer desafios com as músicas de Lupércio Miranda e Jacob do Bandolim. Armandinho é natural de Salvador, casado com Ângela Nou, sua empresária, com quem tem três filhos, Suzana, do primeiro casamento, Daniel e João, que são filhos de Ângela.
Armandinho Macedo foi integrante, por quase oito anos, da banda A Cor do Som, grupo que o tornou conhecido por sua versatilidade com as guitarras. É difícil não associar a imagem dele ao grupo que abalou toda uma geração de jovens adolescentes. Em entrevista para Revista Contigo de 1988, ele comentou sobre sua saída da banda dizendo que o trio elétrico sempre fez parte de sua vida e que A Cor do Som era um bom conjunto. “O trio elétrico é um estilo musical, isso contribuiu para a minha decisão. Acredito que agora A Cor do Som esteja mais feliz”, comentou. Feliz que nada. Verdade seja dita, mas, desde de sua saída a banda não foi mais a mesma. Hoje ele ventilou a possibilidade de um novo trabalho do grupo. Segundo Armandinho a banda está projetando um CD acústico. No entanto, alguns ajustes precisam ser realizados, como por exemplo, o contrato com uma grande gravadora. “O problema da dissolução da Cor do Som foi porque o grupo na época quebrou a unidade, a corrente musical”, comentou.
A discografia deste guitarrista é extensa. Com trio elétrico de sua família ele gravou 16 discos (entre vinil e CD), de 1974 a 2000. Com o cantor e compositor Moraes Moreira gravou mais seis, entre os anos de 1978 a 1983. Na Cor do Som gravou sete Lp’s e mais um CD A Cor do Som ao vivo no Circo. A primeira investida na música instrumental foi em 1997, logo que saiu do grupo, em que gravou pela Movie Play o disco Brasileirô, depois investiu seu momento solo num CD editado junto ao projeto musical do Banco do Brasil, em 1999, que se chama Retocando o Choro. Um instrumental para chorinho, com edição limitada, que é disputado a tapas pelos amantes do gênero. Sem contar com as participações especiais e convites para gravação em discos dos amigos.
Serviço:
Lançamento: Armandinho – A voz do bandolim
Gravadora: Visom Digital
Gênero: Instrumental (bandolim e guitarra)
Contato: MBC Assessoria - Marília Cheola – (21) 9977-1214 e Nanda Dias 9764-0655 - E-mail: mbc_promo@osite.com.br
## Matéria publicada no Jornal O NORTE - Caderno Show - João Pessoa - Paraíba - Data: 18 de fevereiro de 2003.

Lampião em fotos inéditas

As cinqüenta fotografias de Virgulino Ferreira, o Lampião, e seu bando no sertão nordestino serão restauradas pela empresa cearense Abafilm. As fotos foram tiradas entre os anos de 1935 e 1936 e produzidas pelo libanês Benjamin Abrahão. Vinte e quatro fotos deste acervo são fotos inéditas de Lampião, Maria Bonita e o seu grupo de cangaceiros, que nas décadas de 1920 e 1930 percorreram o sertão nordestino fazendo justiça com as próprias mãos.
A restauração é fruto de um acordo firmado entre a empresa Abafilm e da família de Lampião. Benjamim Abrahão conheceu o rei do cangaço no ano de 1926, quando ainda estava em Juazeiro do Norte (CE). Após o falecimento do Padre Cícero, por quem Lampião tinha veneração e respeito, Benjamin procurou o cangaceiro e se ofereceu para registrar sua vida em fotografias e filmagem.
Antônio Amaury Corrêa de Araújo contou que a passagem de Lampião e seu bando pelo Estado da Paraíba se deu nos municípios de Princesa (onde se escondeu durante um tempo), Sousa, Patos e Cajazeiras. “Embora ele não estivesse presente mandava seu bando atacar”, comentou. Antônio Amaury é um dos maiores pesquisadores do cangaço no Brasil. A saga de Lampião e seu bando contém todos os elementos de aventura, romance, violência, amor e ódio, digno de grandes histórias da humanidade. Lampião se jogou a todo tipo de sorte após o assassinato de seu pai. O cangaceiro (nome dado aos foras-da-lei que viveram em grupo, no final do século passado do nordeste brasileiro) percorreu sete Estados da região levando medo e sangue à população do sertão.
Os fatos contados pelos sertanejos sobre a passagem de Lampião são inúmeros, um misto de verdades e mentiras. O certo é que a saga do cangaceiro causou sérios transtornos à economia do interior do Brasil. No início da década de 1930, cerca de 4 mil soldados seguiram em seu encalço nos vários Estados. O bando de Lampião era formado por 50 pessoas, entre homens e mulheres. Em alguns casos Lampião se tornou amigo dos coronéis e grandes fazendeiros que lhe forneciam abrigo e apoio material. Hoje Lampião é um misto de ídolo dos nordestinos. Sua imagem ainda resiste mesmo após 60 anos de sua morte. A influência dele nas artes, música, pintura, literatura e cinema são impressionantes.
O historiador e pesquisador, Antônio Amaury Corrêa de Araújo, disse que cada dia novos fatos sobre o cangaceiro são desvendados. Recentemente, ele descobriu dois cangaceiros que nunca haviam sido entrevistados, um deles, ainda vivo, se chama Alecrin e reside no município de Paulo Afonso (interior da Bahia). O segundo, Manoel Tubiba, faleceu no ano passado. “Manoel Tubida havia sido dado como morto no ano de 1923 e 1924”, relatou. Antônio Amaury Corrêa de Araújo também descobriu Dona Antônia, uma das mulheres do cangaceiro que recebia o nome de Gato. “Há 53 anos que pesquiso sobre Lampião. Eu fiz mais de seis mil entrevistas e tenho sete livros publicados”, disse. Conforme o pesquisador, o maior problema que teve durante a pesquisa foram com os policiais que participaram da perseguição ao bando. “Muitos fatos tiveram uma constância assombrosa. A polícia chegava na sua casa, revistava e muitas vezes batiam nas pessoas obrigando-os a falar muitas vezes dizer coisas que não sabiam mesmo”, confidenciou.
No próximo mês, a editora Traço estará relançando o livro “Gente de Lampião – Dada e Corisco”, de autoria do pesquisador. Antônio Amaury esteve no sertão mais de 43 vezes e a cada viagem descobre novos fatos. Ele disse que Benjamin Abrahão esteve, comprovadamente, duas vezes no sertão com o grupo de Lampião, permanecendo ao todo até quatro meses. A prova esta em um bilhete que o cangaceiro escreveu e assinou. O bilhete continha vários erros de português, o que comprovava o baixo nível de escolaridade de Virgulino Ferreira, que tinha o seguinte teor: “Venho lhi afirmar que foi a primeira peçoa que conceguiu filmar eu com todos os meus peçoal cangaceiros, filmando assim todos us muvimento de noça vida nas catingas dus sertões nordestinos. Outra peçoa não conciguirá nem mesmo eu consintirei mais. Sem mais do amigo. Capitão Virgulino Ferreira da Silva”. Antônio Amaury Corrêa de Araújo, disse que sem as fotos de Benjamim Abrahão, a história do cangaço seria muito mais pobre visualmente.
Adriana Crisanto
adriana@jornalonorte.com.br
*Matéria publicada no jornal O Norte, Caderno Show, João Pessoa, 18 de março de 2003.

Catalógo Raisonné


Imagine uma publicação com 2.500 páginas dividida em cinco volumes, com cerca de 500 páginas cada, identificando as mais de quatro mil obras de um artista plástico. Imaginou? Isso existe e autor do feito se chamou Candido (sem acento mesmo) Portinari. A obra, que não tem precedentes na América Latina, abarca todos os períodos e técnicas de um dos maiores artistas do século XX.
A obra, que passou a ser chamada de “Catálogo Raisonné”, é uma das últimas etapas dos 25 anos de trabalho do Projeto Portinari, criado e dirigido por João Candido Portinari com toda a vasta produção de Candido Portinari (1903-1962). O catálogo, que será lançado oficialmente no dia 27 de setembro, na 26a Bienal Internacional de São Paulo, custa à bagatela de R$ 2.000,00, tem tiragem de dois mil exemplares e será distribuído para 500 instituições públicas de todo país.
O Catálogo Raisonné de Candido Portinari tem edição bilíngüe (português/inglês) e consiste hoje na mais completa e definitiva fonte de referência sobre a obra do artista em ordem cronológica. Todas reproduzidas a cores, com um verbete capaz de contextualizar desde informações técnicas até dados históricos e bibliográficos.
O diretor do projeto Portinari, João Candido Portinari, disse que foram percorridos 20 países das três Américas, Europa e Oriente Médio em busca das obras e dos documentos sobre a obra, vida e época do pintor. Para compor a obra foram criadas metodologias e ferramentas tecnológicas pioneiras, que vão desde o somatório, seja no levantamento da pesquisa como na catalogação. Um projeto tão audacioso só poderia ter o apoio de uma grande multinacional, a Petrobrás. Com o catálogo Raisonné o Brasil entra no cenário artístico internacional, não apenas pela criação de ferramentas tecnológicas e linguagens inéditas, mas também pela riqueza e qualidade das informações contidas nos cinco volumes. João Candido Portinari diz que até hoje o chamado Primeiro Mundo teve reservado para si o círculo mágico do qual acontece a grande arte. “A partir da publicação de nosso Catálogo Raisonné, passamos para dentro deste círculo”, analisou João Candido.
O texto de apresentação do projeto é da diretora técnica, Christina Penna, que também fez a genealogia do Projeto Portinari. No texto de apresentação ela comenta que a primeira reunião aconteceu no dia 2 de abril de 1979. O objetivo era, segundo ela, localizar e catalogar a obra de Candido Portinari, assim como toda a massa documental relativa a sua obra e vida, de forma a preparar a edição do Catálogo Raisonné da obra do pintor. Para iniciar este trabalho, o Projeto Portinari buscou referências externas, sobretudo no formato adotado pelo historiador de arte Francis O’Connor, um dos principais responsáveis pelo raisonné da obra do pintor expressionista abstrato americano Jackson Pollock. Para O’Connor “um catálogo raisonné, dentre todos os tipos de monografias e estudos, é a mais definitiva e completa fonte sobre a obra de um artista”. A metodologia da Unesco também foi consultada na conceituação da publicação.
Um dos elementos originais adotados pela equipe para contextualizar a apresentação de cada uma das obras foi à descrição empregada nos verbetes. Ao estabelecer critérios para a pesquisa do Projeto Portinari, a equipe também alicerçou, conjuntamente, o conteúdo do Catálogo Raisonné. O ponto de partida das pesquisas foram os álbuns nos quais D. Maria Portinari registrou o trabalho do marido desde quando se casaram. Nos álbuns foram encontrados recortes de jornais e revistas, catálogos de exposições, livros, fotografias, filmes e “memorabilia” (material de trabalho, tais como pincéis, tubos de tinta, paletas, compassos etc.) totalizando, na época, cerca de 15.000 documentos.
O acervo reunido pelo Projeto Portinari representa hoje num dos mais importantes arquivos multimídia existentes sobre a história e a cultura brasileiras do século XX, especialmente entre as décadas de 1920 a 1960. João Candido comentou uma das descobertas importantes foi da tela “Baile na Roça”, a primeira obra do artista com temática brasileira, pintada no início da década de 1920, desaparecida desde então, e procurada por Portinari durante toda sua vida. Outra obra localizada nesta fase foi um pequeno retrato, encontrado com um colecionador carioca, com a inscrição do próprio punho de Portinari – “Meu Primeiro Trabalho”. Catálogo Raisonné de Candido Portinari inclui ainda uma biografia do pintor, textos avulsos, bibliografia, índices remissivos e um catálogo em CD-ROM contendo todos os índices, material de apoio à leitura e estudo do catálogo, com uma ferramenta de busca permitindo recuperar obras a partir de sua descrição em palavras, entre outras chaves como título, data, técnica, tema.

Quem foi Candido Portinari?

Candido Portinari nasce numa fazenda de café, na cidade de Brodowski no Estado de São Paulo, no dia 29 de dezembro de 1903. Seus pais foram os imigrantes italianos, Batista Portinari e Domênica Torquato, que tiveram 12 filhos.
Portinari começou a desenhar em 1909. No ano de 1912, participou, durante vários meses, os trabalhos de restauração da Igreja de Brodowski, ajudando os pintores italianos a "Dipingere Le Stelle". Mais tarde auxiliou um escultor frentista. Em 1914, desenha a lápis, o retrato do músico, Carlos Gomes( cópia feita de um maço de cigarros).
Muda-se para o Rio de Janeiro, onde estuda no Liceu de Artes e ofícios e na escola Nacional de Belas Artes. Na década de 50, viaja para a Itália e expõe seus trabalhos na XXV Bienal de Veneza. Foi premiado pelo Painel Tiradentes, com a medalha de Ouro da Paz do II Congresso Mundial dos Partidários da Paz em Varsóvia.
Candido Portinari teve suas obras apresentadas em quase todos os países. Pintou obras sacras para diversas Igrejas do Interior do Estado de São Paulo e vários painéis para agências bancárias no Brasil e do mundo. Foi casado por 30 anos e separou-se em 1960.
É o único artista brasileiro a participar da exposição 50 Anos de Arte Moderna, no Palais des Beaux Arts, em Bruxelas, em 1958. Como convidado de honra, expõe 39 obras em sala especial na I Bienal de Artes Plásticas da Cidade do México, em 1958. No mesmo ano ainda, expõe em Buenos Aires. Em 1959 expõe na Galeria Wildenstein de Nova York e, juntamente com outros grandes artistas americanos como Tamayo, Cuevas, Matta, Orozco, Rivera, participa da exposição Coleção de Arte Interamericana, do Museo de Bellas Artes de Caracas. Envolvido no trabalho para a exposição de Milão, descuida-se de vez de sua saúde.
Candido Portinari morreu no dia 06 de fevereiro de 1962, quando preparava uma grande exposição de cerca de 200 obras a convite da Prefeitura de Milão, vítima de intoxicação pelas tintas que utilizava. Seu corpo foi velado no Ministério da Educação, de onde sai o enterro, com grande acompanhamento.

Serviço:
Candido Portinari - Catálogo Raisonné
Preço de capa: R$ 2 mil
Projeto Portinari - (21) 3114-1439/1440.
E-mail: pp@portinari.org.br
Site: http://www.portinari.org.br/
*Matéria publicada no caderno Show do jornal O Norte em agosto de 2004.

Primeira postagem

Olá amigos e amigas,

Eis-me aqui em novo blog. Nele vou tentar reproduzir algumas matérias que fiz ao longo da atividade jornalística e em alguns momentos farei alguns comentários também. Espero está contribuindo de forma positiva para o conhecimento de vocês. Aguardo os comentários. Abraços para quem for de abraços e beijos para quem gostar de beijos!

Adriana Crisanto