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terça-feira, novembro 28, 2006

Dadi Carvalho


O baixista Eduardo Magalhães de Carvalho, conhecido no meio artístico por Dadi, estará lançando no próximo ano seu primeiro disco solo pela gravadora Som Livre. O título, que ainda não foi divulgado pelo instrumentista,
terá participações de Marisa Monte, Rita Lee, Jorge Mautner, Arnaldo Antunes, Caetano Veloso e outros.
Dadi também é baixista da banda A Cor do Som que junto com o seu irmão, o pianista Maurício Magalhães de Carvalho (Mú), incentivado pelo baiano Armando Macedo (guitarra), Gustavo Schroeter (bateria) e Ary Dias (percussão) retomaram as atividades do grupo e lançaram, em 2005, um DVD e CD acústico pela gravadora Performance Be Records, distribuído pela Som Livre, e que também planeja para 2007 um novo trabalho para trazer de volta a conjunção de boa música com excelente execução instrumental.
Na última passagem pelo Rio de Janeiro entrevistei o baixista Dadi Carvalho, em pleno Leblon, que falou sobre sua carreira musical, seu novo trabalho solo, a saída do guitarrista Armandinho da banda, os 30 anos da Cor do Som, sobre os Novos Baianos, o projeto Os Tribalistas dentre outros assuntos. Confira a entrevista:

Dadi você tocou com Barão Vermelho, Caetano Veloso e agora acompanha a cantora Marisa Monte. Como é que você agüenta?
É realmente cansativo. Mas, é que as coisas vão aparecendo. E também porque são trabalhos legais. A Marisa, por exemplo, é minha vizinha. Hoje é minha amiga e parceira. Tocamos quase todo dia. E para mim é super legal. Porque através dela acabei conhecendo mais de perto o trabalho do Arnaldo Antunes, que para mim é um poeta maravilhoso. As letras que ele escreve eu adoro. Compomos algumas músicas. Compus com a Marisa uma música que está neste novo trabalho dela.

E aquele seu disco solo que só tem no Japão?
Esse disco eu gravei, na verdade, por conta própria. Através da internet eu descobri esse selo no Japão. Mandei umas músicas para o dono do selo. Ele adorou. Daí, eu assinei um contrato de dois anos. Ele lançou o disco lá. Foi super legal. Vendeu quase duas mil cópias. Para mim foi uma surpresa e as pessoas também gostaram.

Esse disco não existe no Brasil não é?
Pois é. Mas, agora estou negociando com a gravadora Som Livre para editar algumas músicas desse disco e outras inéditas. Estou quase lá. Pode ser que em janeiro já esteja lançando ele aqui no Brasil. E já estou preparando outro também. Mas, esse daí, em janeiro, eu estarei lançando. Vou querer fazer uma divulgação legal, fazer show e tudo mais.

Como é que vai ficar então esse novo disco solo?
Tem umas coisinhas apenas para serem resolvidas, mas se Deus quiser vai sair em janeiro. O disco tem onze músicas. Uma instrumental. É um trabalho que me apresenta como compositor. Todas as composições são minhas em parceria com outros músicos. Tem seis músicas com letra de Arnaldo Antunes. Uma música em parceria com o Caetano Veloso, que a Rita canta comigo. Tem uma letra de Jorge Mautner e tem uma letra da Rita Lee, que ela me deu. É uma versão da letra de uma música dos Beatles. Eu coloquei a música. A canção fala de uma pessoa que está envelhecendo.

As tuas influências musicais continuam as mesmas do passado?
O tempo vai passando e cada coisa que você escuta vai somando. Mas, com certeza a base mesmo começou com a bossa nova. Quando eu era menino do lado da minha casa tinha um teatro (Santa Roza) que tinha shows. E meus primos tocavam. Tinham um trio de bossa nova instrumental. Isso fez com que eu fosse me interessando pela música. Eu assistia muitos ensaios neste teatro. Escutava muito Jorge Ben, aquele primeiro disco dele “samba esquema novo”. Até que apareceram os The Beatles, Stones, Erick Clapton, Jimi Hendrix, The Who e Kinks. E ai mexeu com tudo. A década de 1970 foi para mim muito forte musicalmente. Depois tive a sorte de tocar com os Novos Baianos. Eu tinha 18 anos. Era um trabalho que tinha uma influência muito grande de João Gilberto. Ficamos amigos do João. E ele me trouxe de volta para a música brasileira. Isso fez com que a gente escutasse Jacob do Bandolim, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e outros. Os Novos Baianos foi uma grande escola. Toquei cinco anos com eles. Gravei cinco discos. A primeira vez que entrei num estúdio para gravar foi com eles. Depois sai para tocar com Jorge Ben, que foi outra escola para mim. A música do Jorge é muito intuitiva. Deu certo comigo, porque eu também gosto de usar a intuição. A primeira vez que sai para tocar fora do país foi com ele. Fomos para Paris. Viajamos vários países do mundo fazendo shows. Foi na mesma época que estávamos começando com a Cor do Som. Então eu tocava com a Cor do Som, tocava com o Jorge e com Moraes Moreira. Tudo na mesma época. Os Mutantes também foi outra grande influência que tive. Quando os vi pela primeira vez aqui no Rio eu tinha 15 anos e pensei comigo: “É isso que quero fazer. Tocar e viver da minha música”.

Os Mutantes depois de vários anos voltou a ativa. Assim como Mutantes, os Novos Baianos podem voltar também?
Quanto aos Novos Baianos voltar eu não sei te dizer. Seria maravilhoso se retomasse. Eu daria a maior força para voltar. Mas, tem alguns problemas internos que precisam ser resolvidos.

Muitas pessoas não sabem que aquela canção “Leãozinho”, composta por Caetano Veloso, foi para te homenagear e dedicada a você. Como foi isso?
É verdade. Eu acho que isso foi em 1977 ou 79, num lembro direito. Foi quando Caetano estava gravando o disco “Bichos”. Eu estava ensaiando e começando a tocar com a Cor do Som. Fiquei muito amigo do Caetano logo que ele voltou de Londres. Ele foi assistir alguns shows de umas bandas que eu tocava. E ficamos amigos depressa. Porque ele é do signo de leão e eu também. Eu e a Leilinha sempre fomos fãs dele. Freqüentávamos a casa dele. Somos amigos também da Dedé, sua primeira mulher. Caetano sempre teve essa coisa de fazer música para homenagear pessoas. E foi assim comigo.

E como você ficou sabendo?
Um dia eu estava ensaiando com a Cor do Som, no estúdio da Polygram, na Barra da Tijuca. Ele estava gravando e chegou para mim e disse: “Hoje você não vai poder entrar no estúdio porque eu estou preparando uma surpresa para você”. Ele tava gravando justamente Leãozinho, que era só com violão, voz e assobio. Eu fico e sou super honrado de ter uma música composta por uma figura como Caetano Veloso, do qual também sou fã.

A Cor do Som vai fazer 30 anos. Que balanço que você faz desse tempo?
Que loucura hein... (risos). Eu faço um balanço positivo, de certa forma, porque influenciamos muita gente do rock, como os Paralamas, Barão Vermelho, Rita Lee. E todos falam que aprenderam com A Cor do Som. Porque a gente abriu um espaço. A mídia não estava preparada e voltada para escutar aquelas coisas que fazíamos na época. Logo depois veio o rock brasileiro. A mídia voltou o olhar para o rock nacional. A gente abriu o espaço para muita gente, mas não usufruímos desse espaço, nem financeiramente e nem artisticamente. Mas, tem muita gente que ainda gosta, comenta sobre o nosso trabalho. Outra coisa que pegou naquela época foram às letras das músicas. Quando começamos a cantar gravamos Beleza Pura, uma letra de Caetano, com uma música e uma letra maravilhosas. Nessa época estávamos instrumentalmente iguais às letras. Depois gravamos Abri a Porta, de Gilberto Gil, que tem uma letra simples, mas tem uma poesia linda também que diz: “o bom da vida vai prosseguir”. Depois a gente se perdeu um pouco nas letras. Mas, o balanço final acaba sendo sempre muito positivo. Precisávamos passar por isso para amadurecer.

Como vocês sentiram a saída do guitarrista Armandinho Macêdo?
Com certeza foi uma coisa que atrapalhou e marcou muito a todos da banda. Gravamos com o Armando quatro discos. Entrou Victor Biglione, também um super guitarrista, mas tinha outra cabeça. Victor tinha uma veia mais voltada para o jazz, que foi bom também para a banda, mas com o Armando existia uma química. Eu gosto muito dele. A gente se dá muito bem. Naquela época da saída dele à gente não soube organizar as coisas. Foi um certo tipo de despreparo mesmo. Não tínhamos também um empresário bom que soubesse conduzir essa crise. Estávamos, naquela época, crescendo muito. Era para gente ter dado uma parada. Esperado um pouco para fazer música. Ficado tocando apenas em casa. Ter ficado só compondo e escrevendo música para depois lançar um outro bom trabalho. Mas ai entrou naquela coisa do mercado da época que exigia que a banda lançasse um disco por ano. Isso desgastou e perdemos de dar continuidade a um trabalho bacana. O rock nacional entrando com força também. Isso meio que enfraqueceu a gente. Hoje o Armando é o maior incentivador da banda.

E como foi que você conheceu o Armandinho?
Eu o conheci quando tocava com os Novos Baianos. Fui para a Bahia e quando vi aquele trio elétrico e escutei-o tocando guitarra fiquei impressionado e pensei: “Quem é esse cara que toca assim desse jeito, com essa pegada”. Quando eu o conheci foi que fiquei mais intrigado ainda porque eu o achei uma pessoa muito bacana.

E o projeto Tribalistas? Como foi ter participado?
Foi outro projeto maravilhoso que adorei ter participado. Foi um disco gravado por nós cinco. Eu, Marisa, Arnaldo, Carlinhos Brown e César Mendes. Foi delicioso. Gravamos no estúdio da casa da Marisa. Gravávamos uma música por dia. A gente fazia uma base com três violões: Eu, Cesinha e a Marisa. Em cima dessa base íamos colorindo. Colocávamos baixo, bateria, guitarra, Brown colocava percussão. Eu adorei porque toquei vários instrumentos ao mesmo tempo. Foi um sucesso. Só na Itália vendeu 250 mil cópias.


Adriana Crisanto
adriana@jornalonorte.com.br

Publicado no caderno Show do Jornal O Norte em novembro de 2006.
Entrevista realizada no Leblon, Rio de Janeiro, outubro, 2006.