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sexta-feira, março 23, 2007

Jessier Quirino, um xilopoeta arretado!


“Arquiteto por profissão, poeta por vocação e matuto por convicção” é assim que costuma declamar para as pessoas o poeta Jessier Quirino que realiza show “Bandeira Nordestina” nesta quarta-feira (14 de março), a partir das 20h00, no Teatro Paulo Pontes do Espaço Cultural José Lins do Rego, em Tambauzinho. O show é também comemorativo ao Dia Nacional da Poesia. Os ingressos para a apresentação estão sendo vendidos na bilheteria do teatro ao preço de R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (estudante).
Jessier Quirino é natural de Campina Grande, município localizado a cerca de 118 quilômetros da Capital João Pessoa, mas reside no município de Itabaiana, mais perto de João Pessoa, cerca de 80 quilômetros. Ele é um recordista em publicações literárias que tem como essência à expressão oral e linguagem nordestina, ou como costuma denominar os poetas, a poesia matuta.
Poeta, declamador, tocador, trovador, escritor, músico. Ele tem tantos adjetivos, funções e identidades que daria até para se fazer uma rima. A primeira incursão editorial de Jessier foi Paisagem de Interior (Bagaço, 158 págs.1996), ilustrado por ele com orelha escrita por Paulo Caldas. Desde então não parou mais de escrever e ser convidado para ministrar palestras em convenções, teatros e outras exibições públicas. Seguindo a mesma linha publicou também o livro de poesia Agruras da Lata D'Água (Bagaço, 166 págs. 1998), com prefácio escrito por Bráulio Tavares. Na literatura infantil publicou Chapéu Mau e Lobinho Vermelho (1998), A Muidinha (infantil) e ainda A Folha de Boldo - Notícia de Cachaceiro (esgotado), um livro encomendado pela empresa de aguardente Pitu que reuniu uma série de piadas sobre cachaceiro.
Lançou, ainda, no ano de 2001, Prosa Morena, um livro que acompanha um CD com declamações do autor. O livro contribuiu mais ainda para a linguagem e estética de sua obra. Jessier segue a tradição da poesia matuta, que teve início com poetas populares como Cornélio Pires e Catulo da Paixão Cearense. Tem ainda editado o livro “Política de Pé de Muro – O Comitê do Povão”, é um bem humorado comitê de legendas e imagens composto por 195 fotografias de pichações políticas exóticas e gargalhativas. No ano passado lançou “Bandeira Nordestina”, que leva o mesmo título do show, onde faz um verdadeiro mergulho na cultura nordestina. Para falar sobre essas e outras coisas da poesia matuta segue uma entrevista com esse arquiteto das palavras. Leia:

O dia nacional da poesia, não por acaso, coincide com a comemoração do nascimento do escritor baiano Castro Alves. Que análise você faz da poesia neste dia? Os poetas têm o que comemorar?
Há quem diga que a poesia é o laboratório da palavra. A poesia acabada é a palavra confeitada, polida, lapidada - no meu caso - lubrificada com óleo de risada e almofadada com penas de sobrecú de pavão; tudo isto, como forma de levar emoção às pessoas. Essa emoção, na realidade, é que precisa ser comemorada, não só no seu Dia Nacional, mas no bora-bora da vida diária.
Quanto aos poetas, têm sim o que comemorar; são discípulos de Castro Alves e, com a arma pontariosa da palavra, só ferem as pessoas a golpes de entusiasmo. Temos do ponto de vista didático, uma visão do poeta Castro Alves, em posição declamatória, como era do seu feitio, e usual no seu tempo. Por coincidência, faço uma poesia que pede voz e gestos largos, operísticos. Neste sentido, apesar de fazer uma poesia garranchenta, guardo um pouco dessa postura declamatória. É nessa relação de palco e platéia que tenho vivenciado intensamente essa emoção. Torço para que seja nossa cicerone no dia a dia.

O que falta a poesia popular para ela ser mais acessível do que é?
Talvez a chave de acesso esteja na sala de aula, como matéria obrigatória. A oralidade da rapaziada, o rádio e a própria internet cuidariam de espalhar o boato. Em outros outroras, poetas como Augusto dos Anjos, Manoel Bandeira, entre outros, que, de tão cantados, até são considerados poetas populares, usavam o jornal e o panfleto como forma de divulgar suas obras. O próprio cordel foi, e ainda é, um grande veículo de difusão. Hoje, esse papel é desempenhado, na velocidade de Heródes pra Pilátos e em escala mundial pelo pombo-correio da internet. Caso as escolas adotassem como matéria obrigatória, a fonte de pesquisa seriam: cordéis, livros, cds, panfletos e esse folheto eletrônico, ferramenta indispensável nos dias de hoje.

No seu livro, “Bandeira Nordestina”, que não tive acesso ainda, há uma alusão à invenção da xilolinguagem. Em que sentido e de que maneira a xilogravura se situa na sua poesia?
Na realidade, essa expressão foi usada pelo escritor Gilberto Melo, que fez a apresentação do livro Bandeira Nordestina. Em determinado ponto, ele compara minha poesia à invenção de xilolinguagem. Refere-se que, de tão artesanal, seria como uma xilogravura; uma arte rústica de resultado sensível, capaz de retratar a riqueza cultural nordestina, sem perder o traço fundamental da simplicidade do seu povo. De fato, tenho muito zelo por essas miudezas. Retratar isto, de forma amanteigada foi à fórmula que descobri pra emocionar as pessoas.

Você participou das gravações da microssérie A Pedra do Reino. Como foi ter participado desta gravação?
Apesar de sempre imprimir uma boa dose de teatralidade nos meus espetáculos, nunca fiz teatro ou cinema propriamente dito. Na realidade entrei meio assustado feito papagaio que sobra do frechá, mas logo foi me familiarizando com o processo. Foram quatro meses de laboratórios, ensaios e gravações, amoitado no Cariri paraibano. O grande diferencial: Um elenco genuinamente nordestino e mestres de altura e robustura, mais jequitibá do território nacioná. Foi tarefa cumprida feito rabo de pavoa, mas, remédio de grande valimento. Volto aos palcos com esse aprendizado. Em formato de ator, fiz o fotógrafo e poeta Euclydes Villar, que acompanha o protagonista – Quaderna – em pelo menos uma, das inúmeras aventuras – a Caçada Aventurosa. Minha fala é pequena, feito escada de tirar maxixe, mas, tanto na caçada, como ao longo da microssérie, foi não foi, estou lá estampando minha quirinidade, ou minha euclydesdade, como queira. No decorrer das filmagens, findei fazendo outros personagens: um fanático religioso de túnica e enrolado numa rede e um padre com batina e tudo. Este último, já sem bigode e sem barba.

Você tem algumas publicações para criança. Como está essa produção para o público infantil? Parou?
Minha incursão literária infantil se resume a: “Chapéu Mau e Lobinho Vermelho” e “Miudinha”, são histórias alegres feito zoológico sem dragão. Foi não foi, estou sendo solicitado para fazer oficinas em escolas e colégios, principalmente em Recife e Natal, onde os livros são adotados. Nessas ocasiões, os gurizinhos soltam porções de: queremos mais. Ando com umas idéias na marmita dos pensamentos, e nesses dias sai coisa nova.

Quais são os planos para 2007? Mais livros, mais shows, mais eventos? Você não pensa em gravar um DVD para encartá-lo junto aos livros como já faz com os CD´s?
Os espetáculos e os eventos continuam. A feitura dos livros é mais lenta; é feita com recuos e volteios, bem ao sabor da ventania. Temos recebido muita cobrança de um Quirino falante em imagem buliçosa de DVD. Vamos fazer sim, mas ainda estamos arrumando as idéias para ter umas cenas campeiras e descritivas no andamento da palavra declamada, e isso requer mais produção.


Adriana Crisanto



Fotos: Divulgação do artista

Matéria publicada no caderno Show do jornal O Norte, no dia do lançamento.