Encurtador para Whatsapp

quinta-feira, julho 05, 2007

Humor levado a sério


Chargista, humorista, ator e jornalista Cristovam Tadeu está completando 25 anos de carreira artística. Para comemorar a data ele realizará um show de humor com estréia nesta quinta-feira (5), a partir das 18h30, no Teatro Santa Roza, localizado no centro histórico da Capital. O show permanece no local até o dia 26 de julho, sempre as quintas-feiras, exceto no dia 12 de julho. Os ingressos estão sendo vendidos na bilheteria do teatro e custará R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (estudante, deficientes e idosos).
O show intitulado “RisoPontoCom – Uma Ri-trospectiva”, como o próprio nome já diz, será uma exposição do que produziu ao longo dos anos e mostrará todas as facetas engraçadas do comediante, a exemplo da imitação de uma conversa entre Caetano Veloso e Gilberto Gil, no quadro chamado Diálogos ImPertinentes.Tadeu também satiriza o pseudo-isolamento político-existencial de uma famosa cidade da Paraíba: Campina Grande, faz piada da sua própria vida desde menino, sem contar com tentativa do presidente Lula em ensinar a língua dos americanos ou também os diferentes sotaques dos assaltantes pelo Brasil.
Cristovam Tadeu começou sua carreira no ano de 1980. Participou de peças de teatro, fez parte de mais 100 comerciais para televisão, produziu cerca de 15 shows de humor e já realizou várias apresentações pelo país. Para falar um pouco sobre esses 25 anos de carreira ele nos concedeu uma entrevista, onde fala dentre outras coisas porque parou de publicar as histórias de Bartolo, sua convivência com Ednaldo do Egypto e diz que o que gosta mesmo é fazer as pessoas sorrirem. Leia:

Televisão, teatro, comerciais, dublagens, charges... O que tem te dado mais prazer de fazer nestes 25 anos de carreira?
Tudo. Na minha vida sempre fiz tudo com muito humor. Por isso me considero um humorista e não um multimídia. Eu fiz tudo isso que você citou ai em cima mas tudo carregado de humor. Mas, se for eleger uma eu prefiro os shows ao vivo, porque a reação é imediata. Uma charge, por exemplo, precisa ser, pensada, riscada, pintada, elaborada e publicada pra chegar até o publico. A piada não...Ela é pêi-buf!

É difícil fazer as pessoas sorrirem?
Acho que não. Não no meu caso. Tenho uma cara engraçada, acho que é imprescindível para qualquer humorista. O riso está muito associado com o trágico. Por exemplo, se você escorregar numa casca de banana é trágico para você, mas pode ser engraçado para os outros. O humor tem que ser engraçado e se for pensado, pesquisado, trabalhado, melhor ainda.

Sua carreira teve início no final da década de 1970. Como foi fazer arte e comunicação no período da ditadura? Ou você não chegou a sentir muito esse período?
Olha aí o trágico de novo!!! A gente tem a impressão que toda a produção cultural daquela época é mais intensa do que hoje, porque a gente vivia um momento trágico e tinha-se que fazer algo para combater. O riso era uma arma poderosa. Diga-se de passagem as piadas de Juca Chaves, O pasquim, O Millôr...Seinti mais a ditadura na época de criança, mas ainda peguei o restinho da coisa ruim!

Você é autor de Bartolo um personagem de quadrinhos que ganhou até uma publicação. Não tivemos mais notícias dele. Você parou de criar novas histórias para Bartolo?
Parei porque não tenho mais onde publicar. A publicação diária estimula a criatividade. Ainda assim produzi mais de 300 tiras do Bartolo e quando publicava aqui mesmo no Norte tinha até um fã clube dele em Campina Grande. Uns caras que recortavam as melhores tiras e iam pro Chopp do Alemão (tradicional reduto da boemia de lá) para comentar e rir. Recentemente Bartolo foi re-publicado num jornal de mesa de uma famosa cervejaria em São Paulo, a Braunmaster e numa revista de quadrinhos da USP chamada Quadreca. Pena que aqui as coisas são diferentes

No teatro você trabalhou com o teatrólogo e dramaturgo Ednaldo do Egypto. Como foi essa experiência de está do lado de um grande diretor paraibano como Ednaldo?
Excelentes, com momentos bons e ruins. Como sempre tratei Ednaldo como pai e irmão a gente se faíscava algumas vezes. Mas, o que eu aprendi com Ednlado sobre humor me serve até hoje. Ele me ensinou uma coisa boa que foi a "pausa" na piada. Às vezes a pausa funciona tanto quanto um desfecho bacana. Escrevi duas peças para ele atuar: Vôvô Viu a Uva e Vovó Viu a Ave. Ele sempre foi um cara generoso. Ednaldo não passou pelo teatro, o teatro sim, passou por ele ao ponto dele construir sua própria casa de espetáculos. Muita coisa de humor que tenho comigo veio dele.

Que análise você faz do humor no Brasil. Você não acha que essa fórmula de imitação de personalidades da televisão e da política está um pouco desgastada?
Se estivesse não existiria. Isso funciona como uma catarse e não é só aqui no Brasil não. No mundo todo. Na RTP (Rede de TV Portuguesa) tem um programa de bonecos satirizando os políticos de lá, chamado Contrainformaçâo. Até Lula apareceu num dos programas dele bebendo uma garrafa de 51!! Acho que a gente tem é poucos programas de humor, tanto é que o SBT está reprisando o Golias. Nos anos 80 todas as Tv´s tinham mais de um programa de humor. Hoje tem as tais “sitcons”, mas acho que só a Grande Família se destaca, porque trata de uma realidade bem brasileira. Na TV humor funciona sempre!

Algumas pessoas pensavam que com o advento da internet e as novas tecnologias os chargistas e quadrinistas desapareciam. No entanto, o que se observa é uma quantidade enorme de websites com charges e quadrinhos. Como você tem visto e sentido esse processo?
A internet é mais um veículo, com a vantagem da rapidez e do alcance. Já vi charges minhas publicadas em sites europeus. Acho bom que quando você não tem um veículo que queira publicar suas charges e idéias a internet tem o recurso dos blog´s. Acho bacana o uso legal da internet. Eu mesmo uso e muito. Agora mesmo para divulgar o show estou até abusando do uso dos e mails, blogs, orkuts e msns que existem!

Na sua opinião, hoje, quem são os melhores humoristas do Brasil? E na Paraíba, temos novos talentos? Quais ou quem são eles?
Foi-se o tempo dos grandes humoristas no Brasil. A gente tinha tradição do rádio, do cinema com Ankito, Oscarito, Grande Otelo. O grande Chico Anysio e seus muitos e inesquecíveis personagens, o Jô, Agildo (cadê ele??). Morreram muitos humoristas, em pouco tempo, e isso não se repõe assim da noite para o dia, não é? Mas, ainda tem o Tom Cavalcante, que abriu as portas para muita gente, o nosso Shaollim. Cada um aqui na Paraíba faz um estilo diferente, mas o objetivo é o mesmo: fazer rir. É o que eu vou fazer hoje à noite e no dia 19 e 26...Fazer o que mais gosto: as pessoas rirem!

Adriana Crisanto
Repórter
Fotos: Divulgação do artista
*Entrevista publicada no caderno Show do Jornal O Norte, em julho de 2007.