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quarta-feira, junho 21, 2006

Quando não é oito é oitenta


Para comemorar os 50 anos de carreira artística e os 80 anos de vida a cantora e compositora Francisca Januário Custódia, a Chiquinha Gonzaga, irmã do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, estará lançando seu segundo CD, intitulado “Oito e Oitenta” em João Pessoa neste sábado (13), às 21h, no Bar da Buchada, localizado na praia de Intermares, em Cabedelo. Os ingressos estão sendo vendidos no local ao preço único de R$ 10,00.
Chiquinha Gonzaga foi a primeira mulher a tocar uma sanfona de oito baixos, nos anos de 1950. Ela começou na carreira pelas mãos do irmão mais ilustre, que a levou para o Rio de Janeiro, onde logo se destacou na sanfona, que mais tarde viria a lhe garantir o título de Rainha dos Oito Baixos.
Em entrevista por telefone Chiquinha contou que o chapéu de couro sempre foi um instrumento certo na sua bagagem. Mesmo sob os olhares não muito amistosos do pai (Januário) e da mãe (Dona Santana) que diziam que sanfona não coisa para mulher, a jovem Chiquinha insistiu e partiu o irmão Luiz Gonzaga para seguir carreira no Rio de Janeiro. Chegando lá formou com os irmãos o grupo “Os Sete Gonzaga” que acabou sendo documentado em vídeo por uma televisão canadense em 1952.
Chiquinha diz que o irmão lhe faz muita falta, pois foi ele quem lhe ensinou a cantar, Zé Gonzaga lhe incentivou na sanfona e Severino Januário produziu o primeiro disco. Com família participou do lançamento do grupo na TV Tupi. Na discografia da artista constam cinco LP´s: Filha de Januário (1973), Xodó na Rede (1976), Penerou Xerém (1978), Chiquinha Gonzaga e Severino Januário e Forró com Malícia (1980). No ano de 2002 gravou o CD Pronde tu vai, Lui?, que contou com participação do atual Ministro da Cultura, o cantor e compositor Gilberto Gil.
A cantora já se apresentou em Nova York, em programa de rádios, mas revelou que sempre teve vontade de morar em João Pessoa, pois é uma cidade que lembra muito a sua Exu (PE). No entanto, a vida dessa mulher nunca foi muito fácil não. Em 1980, após a morte do seu marido se distanciou da música e da sanfona de oito baixos. Foi quando em 1990, a convite do cantor e compositor Gilberto Gil participou do filme “Viva São João!”, dirigido pelo cineasta Andrucha Waddington. O trabalho resultou na gravação em conjunto do CD “Pronde tu vai, Lui?”, com doze músicas incluindo seu maior sucesso, que dá nome ao disco.
Em “Oito e Oitenta”, ela mostra que não está enferrujada. Os solos da sanfona de oito baixo são muito bem pontuados e certeiros. É difícil encontrar pessoas que se interessem pelo fole de oito baixo, por ser um instrumento que oferece um certo grau de dificuldade para os principiantes. Chiquinha é autodidata no instrumento diz que aprendeu vendo o pai e os amigos tocarem nos forrós de latada no sertão de Pernambuco.
O disco contém 18 músicas. Boa parte das canções são de sua autoria e outras em parceria com outros artistas, além de canções de autoria do irmão Luiz Gonzaga. Participam do trabalho como convidados os músicos: João Cândido, Sérgio Gonzaga, Genaro, Marines, Dominguinhos, Joquinha Gonzaga, Bia Marinho, Walkyria, Nadia Maia, Ivan Ferraz e Júlio César. Acompanham a sanfoneira neste trabalho Fafá bezerra (triângulo), Apolo Natureza (violão e viola), Chico Botelho (cavaquinho), Toninho Tavares (baixo), Walkyria, Dora e Genaro (vocais). A produção é de Sérgio Gonzaga.
Atualmente a artista reside no Rio de Janeiro, mas está sempre em Pernambuco. Hoje ela tem três filhos (Sérgio, Anazili e Aparecida) e seis netos. O disco é todo ele dedicado a memória do filho Januário (Zuca) falecido aos 40 anos de idade e que segundo Chiquinha está no forró de Deus, junto com o pai José Custódio (ex-marido) e a maior parte da família Gonzaga. A artista se apresenta dentro do projeto cultural Identidade Nordestina, produzido por Orlando Camboim há mais de cinco anos, uma das figuras mais apaixonadas pelas cantorias de viola e trovadores.

Adriana Crisanto