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sábado, maio 12, 2007

Alimentar a alma com música

O festival de música alternativa Mada (Música Alimento da Alma) que ocorreu neste último final de semana na arena do Imirá Plaza Hotel, via costeira de Natal (RN) teve algumas surpresas. A chuva visitou a arena do evento no segundo dia, data em que menos pessoas compareceram no festival de música alternativa que tem se consolidado nos últimos anos.
Dividiram os dois palcos do Mada, no primeiro dia, as bandas Pandora no Hako (RN), Lucy and The Popsonics (DF), Manacá (RJ), Rockassetes (SE), Memória Rom (RN), Cabaret (RJ), Mellotrons (PE), Bugs (RN), Mombojó (PE), Móveis Coloniais de Acaju (DF) e Detonautas Roque Clube (RJ).
A banda potiguar Pandora abriu as apresentações no local. A proposta do grupo é uma das mais difíceis de explicar. Eles tocaram músicas antigas dos desenhos animados japoneses com um tal de fundo metal melódico. Para quem não entende muito dessa “coisa jovem demais da conta de ser” a música parece esquisita com jeito nerd, só os iniciados poderiam explicar.
Os grupos Lucy and the Popsonics (DF) e Manacá (RJ) chegaram no festival com cara e jeito de quem realmente iriam surpreender. Tanto potencial não resultou em muita coisa. O que salvou foram os covers e as performances da banda Manacá, mesmo assim a moça de saia tule vermelha matou o samba dos cariocas. Cartola a essas alturas deveria está se contorcendo na cova.
Há quem diga que o Mada é o grande peneirão da música independente brasileira, pois lá estão os olhos, ouvidos e mentes aguçadas e entendidas em rock. Os comentários são os mais variados possíveis. Na seqüência do segundo dia a banda Cabaret (RJ), que já esteve no festival com outra formação, subiu no palco xingando todo mundo, como não poderia deixar de ser, faz parte do jogo cênico das bandas. “Copacabana só quer falar de amor”, dizia a letra de uma das canções da Cabaret. Na tentativa de abrilhantar o show, o vocalista convidou a cantora Letícia, da banda Manacá (aquela que matou o samba) para fazer um duo performático no palco. O resultado não foi dos melhores.
Minha mente estava ardendo com tanta distorção de guitarras quando entrou o grupo Bugs de Natal (RN). Está é de fato a melhor banda potiguar. Boas músicas e um instrumental rock impecável. Fui conferir de perto a apresentação para ter certeza do que estava escutando. A banda é madura e não deixa a desejar a nenhuma grande banda de rock brasileiro.
O Bugs com a formação básica: baixo e voz (Paolo), guitarra (Denilton) e bateria (Augusto) mostrou que sabe o que faz. Recentemente eles lançaram o EP/CD-Demo “Exílio” com seis músicas que estava sendo vendido na feira mix do evento. O show estava sendo gravado por seis câmaras para edição do primeiro DVD da banda.
Muita gente permaneceu na arena de shows do Mada para ver o show da banda Mombojó (PE). Sinceramente eu não sei por que fazem tanto alarde com essa banda. E muita gente foi lá conferir qual recado deles. O vocalista quando percebeu que a coisa estava dando em água se contorceu, berrou e se jogou nos braços do público. “Quanta comoção e exagero”, comentou um jornalista do sudeste.
O melhor do show da sexta-feira foi sem dúvida nenhuma da banda Móveis Coloniais de Acaju (DF). O grupo entrou pontualmente às 1h30 da madrugada. “Tudo lindo. Muito lindo”, vibrava o vocalista da banda. Em cena um bando de músicos loucos por música se divertindo com o trabalho que fazem. A fórmula meio circo-teatro com música autêntica e espontânea agradou em cheio a multidão.
Com guitarras, baixo, bateria e um conjunto de metais para lá de afinado eles interagiram com público e até fizeram arranjo novo para uma música do Ultraje a Rigor. “Somos uma banda independente totalmente depende de vocês”, brincava com a platéia o vocalista. Mesmo quem estava ali apenas para assistir os shows das big band’s nacionais se divertiu e aplaudiu a Móveis Coloniais.
O grupo brasiliense recebe as influências de Karnak e Brasov, só pra citar dois exemplos, ou seja, mistura rock, pop, ska e ritmos de países inóspitos do leste europeu. Soma-se a isso letras pretensamente sem pé nem cabeça que pode muito bem servir para algum filme moderno.
A banda Detonautas Roque Clube que se apresentou pela primeira vez no Mada, em 2001, retornou a arena do evento quase 2h20 da madrugada e detonou um repertório de mensagens de paz e não violência. O vocalista e líder da banda vestido ao estilo Devendras tocou uma música do Legião Urbana, homenageou Cazuza e Rodrigo Neto, ex-integrante da banda assassinado violentamente em um assalto no Rio de Janeiro. O show terminou quase 4h00 da madrugada ao som de Raul Seixas.
A banda paraibana Dalila ao Caos foi a primeira a subir no palco do Mada e mandou bem o seu recado, sem fazer muito alarde, mas, no último dia do evento a noite foi mesmo dos gaúchos. Das onze bandas a se apresentar na noite três delas eram gaúchas “tchê”. A primeira a se apresentar foi a Pública seguida da Superguidis e Cartolas. O sul do país, considerado o berço da cena rock alternativa brasileira, não mandou seus melhores. Todas as bandas gaúchas têm um som pesado e mesmo sendo pequenas apresentam perfil de big band.
O grupo canadense The Russian Futurist, a grande atração internacional do Mada, munidos com teclados e programações não muito criativas não convenceu. A potiguar Belina Mamão que vinha com a promessa de diversão com canções como Pneu Furado, Fulera e Princesa do Papai não convenceu também. A grande atração nacional a banda mineira Shank, que deu coletiva apenas para televisões, entrou fria e saiu gelada do palco do Mada. Pareciam que estavam ali apenas para cumprir tabela, desfilaram algumas canções do seu lado B, cumpriram a pauta e foram embora sem fazer muita diferença.
O Mada é um evento organizado pelo produtor Jomard Jomas. “O homem do Mada”, com chama a imprensa potiguar, ralou um bocado para levar um evento de qualidade para o público e tem conseguido se firmar no cenário musical independente brasileiro. O evento é um dos poucos existentes no país e teve o apoio da Lei Câmara Cascudo e o super patrocínio da operadora de telefones móveis Tim que deu oportunidade a profissionais de imprensa de todo norte-nordeste para cobrir o evento. Valeu Tim!
Adriana Crisanto
Repórter
Matéria publicada no caderno Show do Jornal O Norte
Fotos: Rodrigo Vidal
Viajei ao Mada a convite da TIM.