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domingo, maio 06, 2007

Especialistas comentam sobre o rumo do jornalismo cultural


A Fundação Itaú Cultural em parceria com a Summus Editorial lançou está semana um catálogo luxuoso e sistemático em que traz discussões super relevantes à cerca do jornalismo cultural brasileiro. Trata-se de “Rumos (do) Jornalismo Cultural” (232 págs. R$ 98,00) organizado pelo antropólogo e jornalista Felipe Lindoso, em que apresenta reflexões de renomados jornalistas brasileiros e estrangeiros sobre a atividade no Brasil e no exterior.
A obra reúne nomes como Teixeira Coelho (ensaísta, docente da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo), Cremilda Medina (pesquisadora e coordenadora de Comunicação Social da USP), Gilmar de Carvalho (jornalista e professor da Universidade Federal do Ceará), Humberto Werneck (jornalista e autor do songbook Chico Buarque letra e música), Israel do Vale (diretor de produção e programação da Rede Minas de Televisão), Maria Hirszman (critica de arte e colaboradora do caderno 2 do Estado de São Paulo) entre outros nomes.
Num primeiro momento os autores dos textos traçam um panorama com os principais debates sobre as relações entre mídia e cultura (formação e contexto, economia da cultura, práticas profissionais, arte e tecnologia). São tentativas de definir e conceituar o jornalismo cultural. Os textos dos autores foram transcritos e editados a partir das falas no Seminário Internacional e Colóquio Rumos.
A segunda parte da publicação “Rumos Jornalismo Cultural: História” os autores registram os principais momentos da primeira edição do programa em 2004 e 2005. São pareceres, discussões virtuais e textos explicativos sobre os rumos do jornalismo cultural. A última parte do catalogo traz leituras, nomes, endereços, agendas que ajudam ao profissional que escreve nas editoriais culturais.
O catálogo é recomendado não apenas a estudantes que almejam um dia escrever sobre cultura, mas a profissionais de comunicação social e produção cultural. A edição foi criada com base em sugestões dos profissionais envolvidos no programa Rumos Itaú Cultural, um dos mais abrangentes programas de estímulo à produção artística e cultural em voga hoje no país.
O jornalismo cultural é hoje uma das profissões mais cobiçadas pelos profissionais e estudantes de jornalismo. Apesar do glamour aparente da profissão a atividade padece de muitos questionamentos. É acusado diariamente de não dialogar com os artistas e suas obras, por viver ainda com maus hábitos, por incutir na cabeça dos leitores uma ideologia velha de 20 e 40 anos atrás que são apresentadas como válidas e atuais.
Os maus hábitos ainda prosseguem. E nada pior em cultura do que hábito cultural. E o jornalismo cultural brasileiro ainda está cheio de hábitos culturais. A cultura, como diz Teixeira Coelho, pode ser feita de hábitos culturais, mas o jornalismo cultural, não.
É possível encontrar ainda alguns maus hábitos sendo repetidos pelos mais novos que tem que se incorporar ao sistema das empresas de comunicação, ditados ainda pelos dinossauros do jornalismo cultural. Um desses maus hábitos é o jornalismo cultural de serviço, orientado para divulgação de Cd’s, livros e Dvd’s ou ainda a divulgação de polêmicas culturais rasas e inúteis em suas colunas. Muitos ainda nem sequer conhecem a carta dos direitos culturais de seus cidadãos. Os direitos culturais são uma herança dos Direitos Humanos da Carta de 1948 e, no entanto, demoraram até 1966 e a rigor até 1976, para começar a serem de fato entendidos como tais, e divulgados.
O fato de conhecer a carta de direitos é lógico que não vai resolver todos os problemas do jornalista de cultura, muito embora permita ao profissional de imprensa cultural entrar em sintonia com o seu tempo e entender que uma das balizas do jornalismo cultural é a garantia da diversidade. Apoiar não apenas aquilo que diz respeito à minha cultura, mas abrir espaço real para a cultura do outro.
Hoje assim como ontem continua a serem eleitos artistas e produtos de arte, por exemplo, como os únicos passíveis de serem noticiados e criticados e não há o acompanhamento democrático da reportagem, das tendências da arte brasileira de todos os artistas, sejam eles consagrados ou não, de todas as manifestações, da periferia ao centro.
Na Paraíba, na maioria dos jornais, esse é um campo de prestígio relativamente baixo. A maioria dos jornais está presa no século XIX. As colunas de opiniões, que são responsáveis por questionar determinada arte e fomentar discussões relevantes, na maioria das vezes não o fazem. Nos jornais existem críticos de artes visuais, críticos de música, de cinema, de literatura que estabelecem as fronteiras das artes. Na maioria das vezes são pessoas de prestígio na sociedade e acadêmicos, que escrevem em colunas com uma linguagem cifrada, gratuitamente, e que não são capazes de adaptar-se rápida e dinamicamente a cultura em transformação.
Essa ainda é a realidade de nossos cadernos culturais. No entanto, vários estudantes dos cursos de jornalismo desejam forma-se jornalistas de cultura, mas, poucos sabem que a formação do jornalista de cultura não depende unicamente da universidade ou simplesmente gostar de assistir filmes. A faculdade e os cursos de especialização são vetores importantes na formação, de modo geral benéfica, mas não são tudo. A abordagem mais crítica do jornalista da área de cultura não é vista nos cursos de especialização, talvez possa se conseguir maior êxito através de uma pós-graduação, que nos permita codificar melhor as formas da arte e aliá-las ao jornalismo.
Muito do que aprendi sobre cultura vem do contato da minha família com a arte que foi aprimorada nos cursos paralelos e de extensão cultural da universidade. Além do contato com atores, artistas, com livros, e muitas idas e vindas a eventos culturais.
É fundamental para o jornalista que escreve sobre cultura que ele tenha o conhecimento das fontes, goste da pesquisa, faça comparação de textos e opiniões, não baseado apenas no “achismo” e que evite a crítica prescritiva. É importante refletir e compartilhar com a comunidade, pois a prática do jornalismo cultural, como em qualquer outra área da comunicação está ligada ao exercício da cidadania.



Adriana Crisanto


Serviço:
Rumos do Jornalismo Cultural
Organizador Felipe Lindoso
Summuns Editorial e Rumos Itaú Cultural
Preço: R$ 98,00
Páginas 232.
Matéria publicada no caderno Show do jornal O Norte, em abril de 2007.