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sexta-feira, fevereiro 22, 2008

NOEL o filme

Demorou a chegar nas salas de cinema de João Pessoa, mas finalmente foi exibido o filme "Noel - Poeta da Vila", do diretor Ricardo Van Steen. O filme conta a história do músico, compositor de sambas e por que não dizer mulherengo Noel Rosa e acima de tudo um gênio da música brasileira. Apesar das muitas críticas com relação ao elenco feitas pela imprensa especializada do sul, sudeste e nordeste a atuação do ator Rafael Raposo, que interpretou Noel Rosa no filme salvou muitas partes do longa-metragem.

Noel Rosa foi uma figura especialíssima, seu andar largado, chapéu panamá, terno branco, gravata, sapato de sambista, o queixo de quem nasceu com uma trombose e total entrega ao universo da música. Ele foi diplomado como boêmio, morreu tuberculoso, mas também suou a camisa para compor e deixar como legado 259 composições, escritas num período de cinco anos.


Abandonou a faculdade de Medicina para se dedicar à música e morreu aos 27 anos. Apesar de reverenciar o compositor e ter mergulhado em sua vida para viver o personagem, Rafael contou em entrevista para imprensa do sul que a boemia nunca foi o seu forte. “Tenho alguma semelhança física com Noel, mas sou bem diferente dele. Não levo uma vida boêmia e nem sou mulherengo. Porém, aprendi com ele, através do filme, a viver cada dia como sendo único”, diz o ator de ‘Noel Rosa — Poeta da Vila’.

O ponto alto da trama é a relação extraconjugal entre ele, que era casado, com a dançarina de cabaré Ceci, papel de Camila Pitanga, que recentemente viveu a prostituta Bebel na novela “Paraíso Tropical’’ (Globo). A personagem Ceci (assim como Bebel) tinha uma profissão que, na sua época, era rejeitada.

Mais do que uma narrativa histórica sobre o músico excepcional que foi Noel, o enredo do filme é um manifesto contra a discriminação e o preconceito enfrentados pelos negros ao longo dos séculos. Os índios nessa época eram vistos como apáticos ou nem eram vistos. Os negros, como escravos indolentes, marginais ou ladrões de carteira. Foi nesse contexto social que sobreviveu Noel, Cartola, Aracy de Almeida e tantos outros sambistas brasileiros que ajudaram a construir as bases da música popular.


A música do filme é um aspecto a parte. E é duro assistir e ouvir todas aquelas músicas com riqueza melódica e poética e se deparar em seguida na calcadinha da praia de Manaíra com carrinhos de música vendendo Cd´s com a música que tem no refrão coisas do tipo: “beber, cair e levar”. Não que Noel não tenha se embrigado, várias vezes são vistas cenas da boemia no filme, mas a embriaguez parecia fazia parte do processo criador e da criatura levado aos extremos com muito um humor.


Hoje o samba é moda, veio e ficou. Está em toda parte do país e tomou novos ares na cidade do Rio de Janeiro, onde dizem alguns historiadores ter nascido. Noel não era baiano, não nasceu no recôncavo, era carioca da gema. Nasceu de um parto difícil em que o uso do fórceps pelo médico causou-lhe um afundamento da mandíbula que o marcou por toda a vida.


Apesar de algumas criticas o filme ganhou os prêmios de melhor direção de arte, melhor edição de som e o Prêmio Especial "Orgulho de Ser Brasileiro", no Festival de Cinema Brasileiro de Miami. Ganhou o prêmio de Melhor Filme - Júri Popular, na Mostra de Tiradentes.

Este foi o filme de estréia do diretor Ricardo van Steen. As filmagens de Noel - Poeta da Vila ocorreram no final de 2004 e o filme foi exibido na mostra Première Brasil, no Festival do Rio 2006.


Adriana Crisanto
Repórter
adriana@jornalonorte.com.br
adrianacrisanto@gmail.com
Fotos: Divulgação.