Na onda do som e da história, a escritora baiana Simone
Caetano desbravou os acordes e memórias para trazer à luz a segunda edição de
"A Voz de Armandinho", pela editora "Garimpo Editorial". O
lançamento da segunda edição aconteceu em abril, na livraria do Shopping Barra,
em Salvador, mas prepare-se, pois os planos da autora se estendem para além dos
limites da Bahia.
Este livro,
nascido do calor do curso de Comunicação da UFBA, é uma ode à vida e arte de
Armandinho Macêdo, herdeiro musical de Osmar Macêdo, o visionário do Trio
Elétrico. Entre as páginas, testemunhos valiosos de Durval Lelys, Yacoce
Simões, Leandro Gazineo, Luiz Caldas e outros, além de preciosas fotografias
que capturam a essência familiar e amistosa que permeia o enredo.
Em nossa
conversa exclusiva, Simone revela os bastidores da sua inspiração para
mergulhar na trajetória de Armandinho, compartilhando os desafios e a magia do
processo criativo. Descubra conosco como foi desvendar os mistérios e melodias
por trás do virtuosismo da guitarra baiana e desvendar os segredos de um ícone
da música brasileira.
E como toda
boa história tem seus momentos de tensão, Simone nos contou sobre a busca pelo
lado menos óbvio de seu biografado, revelando até mesmo por que Nelson Motta,
renomado crítico musical, não concedeu a nota máxima para Armandinho em sua
estreia na televisão. No entanto, como o destino tem seus próprios acordes,
essa nota fora do comum talvez tenha sido a faísca necessária para que
Armandinho brilhasse ainda mais intensamente, transformando-se na lenda da
guitarra baiana que conhecemos hoje.
Então,
prepare-se para uma viagem sonora e emocionante através das palavras de Simone
Caetano, a mente brilhante por trás de "A Voz de Armandinho". O livro
está disponível diretamente com a autora, pronta para compartilhar essa melodia
única que ecoa pelas páginas.
Simone qual foi sua inspiração principal para escrever "A Voz de Armandinho Macêdo"? Pode nos contar um pouco sobre o seu processo criativo e como foi mergulhar na vida e carreira de Armandinho?
Tudo começou quando precisei fazer meu trabalho de conclusão do curso Comunicação em Jornalismo, na Faculdade Social da Bahia – FSBA, iniciei o processo em 2008, finalizei em 2010. Resolvi fazer um livro reportagem ou jornalismo Literario, pois amei a disciplina dada pelo professor gaúcho Leandro Colling, eu gosto de escrever desde criança, e também porque quis fazer um trabalho solo, eu sou Perita Criminal na Bahia, e, na época, não tinha muito tempo para reunir com outros colegas e fazer algum outro trabalho em equipe. Fiz tudo sozinha, escolhi fazer sobre um personagem artista baiano, e por intuição, escolhi Armandinho. Tinha visto ele tocar guitarra baiana e bandolim num DVD de 2005 da Cor do Som, percebi seu virtuosismo, que tanto encantou nos carnavais baianos e, isso, me chamou atenção quanto a sua performance. Então, entrei em contato com sua assessoria, falei com Margô Carvalho e marquei entrevistas com ele. Armandinho foi muito solícito e me deu contato de familiares e amigos artistas. Ele sempre muito simples, mesmo sendo virtuose e genial, gostou da ideia do meu livro e facilitou minha vida de entrevistadora e produtora do livro. Digo a ele até hoje que ele foi o melhor personagem que um escritor poderia ter, confiou no meu projeto e capacidade, mesmo eu sendo formanda. Ele nada me exigiu, além de ter sua música e forma de tocar seus instrumentos guitarra baiana e bandolim, descritos, explicados no meu livro, e assim eu fiz, pesquisei sua música através de livros especializados em música e fiz entrevistas com músicos formados e geniais como ele, como Fred Dantas, Yacoce Simões (seu diretor musical), Leandro Gazineo, Luiz Caldas, Durval Lelys, dentre outros, todos com espaço no meu livro A voz de Armandinho Macêdo. Escolhi esse título porque ele fala com seus instrumentos, ele se comunica com seu público, interagindo com suas cordas, de forma única, sem ler partitura, com seu virtuosismo e ouvido absoluto. Armandinho tem forma única de interpretar cada música que toca, ele cria e recria nas improvisações excelentes que faz, como exemplo na música Brasileirinho e no Hino ao Senhor do Bonfim. Eu acho que acertei em cheio na escolha do meu personagem tão talentoso, pois sou sua biógrafa exclusiva e consegui narrar sobre sua trajetória musical e profissional, sem perder o fio condutor, deste seu aprendizado precoce aos 8 anos com o pai Osmar Macêdo, músico autodidata, sua carreira mirim no Trio Elétrico Dodô e Osmar, depois, Armandinho, Dodô e Osmar, onde tocava também seus irmãos, Betinho, Aroldo e André que foi cantor. Além do Armandinho como integrante do grupo A Cor do Som e carreira solo, fazendo shows até os dias atuais. Ele ficou satisfeito com o resultado do meu livro e eu sou orgulhosa e feliz a ponto de, após a primeira edição em 2012, realizar a segunda edição, agora com a editora Garimpo, pois ele e meu livro têm público e pedidos dos fãs para uma nova edição, cujo lançamento foi dia 25.04, livrarei Escariz, no shopping Barra em Salvador.
Por que você sentiu necessidade de fazer uma segunda edição? Faltou algo no anterior que você contempla nesta edição?
A segunda edição surgiu porque até hoje recebo contato dos fãs de Armandinho Macêdo buscando o livro, que foi um sucesso no primeiro lançamento em 2012, na livraria Saraiva, com o próprio artista junto comigo autografando. O gerente na época disse que nunca tinha visto a loja tão cheia em um lançamento literário. E também porque meu amigo escritor Achel Tinoco, que prefaciou meu livro, me dizia que valia uma segunda edição, daí resolvi fazer, com a editora Garimpo, de São Paulo. Com nova capa, contendo uma foto minha, emblemática, de Armandinho tocando sua guitarrinha branca preferida, numa apresentação no Parque da Cidade de Salvador, em 2009, junto com a Orquestra Sinfônica da Bahia, foi um verdadeiro espetáculo, cujos músicos tocaram e se divertiram com as improvisações e interpretações das músicas clássicas e instrumentais tocadas junto com ele, que se divertia fazendo os solos incríveis. Inclusive, ganhou um capítulo à parte com a entrevista com Leandro Gazineo, tão explicativa sobre a música de Armandinho Macêdo, sobre sua performance de chorão da música instrumental brasileira, ficou muito legal. O resultado foi um bom livro, bem pesquisado, com muitas informações musicais relevantes e também sobre a história familiar de Armandinho, como o primeiro filho da alegria de um verdadeiro pai da música popular carnavalesca e baiana, Osmar Macêdo, um dos criadores do trio elétrico e do frevo baiano trieletrizado, muita riqueza que mereceu segunda edição.
Durante a pesquisa e a escrita deste livro, houve algum desafio específico ou algo surpreendente que você encontrou sobre Armandinho Macêdo que gostaria de compartilhar?
Sim, na faculdade de Jornalismo e na disciplina jornalismo literário, os professores queriam fatos e saber os dois lados da história, ou seja, eu precisava falar também do contraditório, dos pontos e opiniões desfavoráveis ao meu personagem. Porém, não encontrava ninguém para falar algo negativo dele, era unânime que os entrevistados só queriam falar coisas boas dele: por ser um gênio na música, por ser gente boa. A única pessoa que poderia falar algo ruim sobre ele, talvez, seria sua ex-esposa Ângela Falcão, mas ela não quis me dar entrevista. Somente o enteado de Armando e produtor, que falou sobre seus devaneios quando ensaiava, atrasando, às vezes, sua agenda. Só isso que consegui, mesmo tentando encontrar alguém que falasse algo menos fofo. Entrevistei Nelson Motta que não deu nota 10 a Armandinho no programa de talentos de Flávio Cavalcanti, quando ele se apresentou pela primeira vez com 15 anos incompletos. Nelson também jovem, mas já era jurado, deu nota 9 para Armandinho e 10 para uma cantora da Bossa Nova, isso porque Nelson gostava do gênero de música e queria ajudar na carreira da cantora mais experiente que Armandinho, porém ele me disse que se arrependeu, pois quem acabou fazendo estrondoso sucesso foi Armandinho, até hoje. Tem outro fato interessante sobre esse seu jeito de transcender quando Armando toca nos ensaios, desta vez foi Caetano Veloso que me relatou, porém está no livro, e só adquirindo para satisfazer a curiosidade do público leitor. Meu contato: IG: simonecaetanofa, celular Zap 71988223945.
Como foi a interação com Armandinho Macêdo durante a elaboração do livro? Ele participou ativamente do processo ou deu total liberdade para você explorar a história dele?
Ótima interação como já me referi. Ele muito simples e gentil mesmo sendo genial, capaz de tocar músicas clássicas e populares brasileiras, frevo baiano, pop, rock e solos incríveis que ele se inspirou em Jimi Hendrix e outros. Armandinho tem muita leveza e não teve pressa, somente muita disponibilidade para fazer mais de 10 h de entrevistas, só com ele, eu esmiucei suas lembranças familiares, com seu pai e irmãos, perda precoce de sua mãe aos 8 anos de idade, cronologia do seu aprendizado musical com seu pai e outros mestres como Jacob do Bandolim, além da sua trajetória musical. Foi muito legal fazer esse trabalho com o personagem atuante e saudável, com todas suas lembranças. Sua vida foi um livro aberto e sim tive liberdade nas perguntas inclusive pessoais, ele me deu todos os contatos necessários de familiares, amigos e colegas artistas.
Qual é a principal mensagem ou lição que você espera que os leitores levem consigo após lerem "A Voz de Armandinho Macêdo"?
Com toda essa minha experiência acadêmica literária, acho importante ter produzido, sozinha, uma obra do jornalismo literário ou livro reportagem, principalmente, por ter sido o livro todo desenvolvido a partir de entrevistas diversas, com artistas e músicos especialistas, em busca dos fatos, muita pesquisa em fontes diversas como livros técnicos sobre música, bibliotecas, arquivos de jornais e revistas do gênero. Após as pesquisas e entrevistas, a próxima etapa foi organizar todo material, de forma cronológica, seguindo um roteiro já estabelecido por mim, então, mergulhei na música e história de vida de Armandinho e escrevi o livro durante quatro meses. No final do livro tem todas as referências bibliográficas que usei, a discografia do Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar, da A Cor do Som e carreira solo de Armandinho Macêdo. O livro tem muitas fotos históricas, da família, de fotógrafos avulsos e minhas também, nas duas edições. Nesta segunda, tem fotos que não tinha na primeira edição, algumas informações atualizadas, inclusive sobre o prêmio merecido que ele ganhou ano passado na UFBA pela sua obra. Nessa faculdade Armando fez vestibular ainda jovem, passou na fase prática com mérito, porém, por não ter alcançado nota suficiente na parte teórica, não foi classificado, então, ele seguiu sua arte musical sem universidade. Anos depois, a faculdade lhe ofereceu uma vaga, mas sua agenda não conciliava com os horários, e segundo Yacoce Simões, uma simples graduação não iria atender sua genialidade, só mesmo no nível de mestrado. Então, creio que é um ótimo livro para o jornalista ou escritor que quiser produzir uma obra desse gênero. Acrescento que o livro foi muito bem revisado pela professora Denise Hudson, acadêmica, doutora em literatura e fã de Armandinho Macêdo, consta na obra uma música poesia que ela fez para ele.
Após concluir um projeto tão significativo como este, você já tem planos para um próximo livro? Pode nos dar alguma ideia do que está por vir em seus futuros projetos literários?
Eu participo de coletâneas de contos e poesias com Neila Bruno, baiana e professora de literatura, especialista em carreira de escritor, com ela participei de seis coletâneas com diversos autores, e escrevo também para Editora Valleti Books, de Luiz Primati, publicitário paulista, com quem já participei de quatro coletâneas com diversos autores. Os dois são ótimos organizadores de livros, que foram muito bem diagramados e ilustrados com excelentes textos literários. Pretendo lançar um livro de poesias de autoria do meu pai Almir de Abreu Farias, já falecido, escritor, autodidata e ex-combatente da Marinha, amante dos livros com quem me inspirei a amar a boa leitura e escrever bem. Estou disponível para realizar outras obras de jornalismo literário onde me especializei ou romances, criatividade não me falta, graças a Deus. Penso também em novos trabalhos em assessorias de comunicação ou editoras literárias, estou preparada para trabalhos nesta área, pois amo escrever, revisar textos e editar para a leitura ficar mais fluida e criativa.
Fotos: Divulgação da autora.