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terça-feira, dezembro 28, 2021

Músicos da Banda 5 de Agosto são exonerados para cumprir Termo de Ajustamento de Conduta (TAC)


    Os músicos da Banda 5 de Agosto, patrimônio cultural da cidade de João Pessoa, recebeu o comunicado no final da tarde de ontem, segunda-feira (27), que estariam exonerados, dentre estes os mais antigos da banda. Em seus 57 anos de história a banda perde músicos renomados de seu quadro e gera na área cultural uma verdadeira indignação. 

    O atual diretor executivo da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), Marcus Alves, confirmou o afastamento dos músicos, que já não haviam recebido seus salários neste mês de dezembro. A Funjope é o órgão responsável por administrar a Banda 5 de Agosto e a Orquestra Sinfônica do Município de João Pessoa. De acordo Marcus Alves, a decisão foi tomada com o intuito de cumprir o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). A banda, segundo ele, vai permanecer, mas, com um número reduzido de músicos. “Estamos apenas cumprindo uma determinação do MP após TAC assinada pelo ex-prefeito Luciano Cartaxo. Mantemos 25 músicos na banda 5 de agosto. E vamos aguardar parecer do MP para mantermos os demais músicos, assim como outros servidores da Funjope. Tudo feito com tranquilidade e orientação jurídica. Isso ocorreu em várias secretarias da administração, pois o TAC assinado pelo Cartaxo era para todos”, disse Marcus Alves. 

    Este termo TAC consiste em um acordo que é realizado entre os gestores públicos e o Ministério Público, com o objetivo de proteger direitos de caráter coletivo. Trata-se de um título executivo extrajudicial, que contém pelo menos uma obrigação de fazer (ou de não fazer). A finalidade é impedir a continuidade de uma situação de ilegalidade e assim evitar uma ação judicial. 

    Como se faz no bom e velho jornalismo ético eu tentei desde ontem o dia inteiro falar com alguns músicos da Banda 5 Agosto, mas, todos eles tem medo de represálias, medo de ser penalizado, medo de perder o único sustento que tem, sim porque ainda existe a promessa de que irão ser recontratados, mas não vão, muitos não irão mesmo, porque essa é a lógica do mercado político e das instituições públicas que fazem essas higienizações de tempos em tempos. É cruel, maltrata e desgasta a saúde das pessoas. E quem acha que esse tipo de coisa é relativo e normal isso nunca será normal, pois não se relativiza a vida humana de quem realmente necessita, de quem trabalhou uma vida inteira prestando serviço a uma instituição pública calado, sofrendo todo tipo de pressão psicológica e muitas vezes assédio moral. 

    Para quem não sabe ou desconhece a riqueza cultural de nossa cidade fica sabendo que a Banda 5 Agosto nasceu maio de 1964 e funcionava extraoficialmente até 20 de outubro do mesmo ano, quando o então prefeito da época, Domingos Mendonça Neto, sancionou a Lei nº 620, institucionalizando-a com este nome em homenagem à fundação da capital paraibana. Daí me vem na cabeça um primeiro questionamento que faço aos advogados e entendidos no assunto: Pode um órgão criado por lei sem findado? Pode a administração pública ter esse tipo de conduta? Ou seja, exonerar os músicos sem pagar os salários pelo tempo trabalhado? 

    Se o intuito do TAC é impedir uma situação de ilegalidade que a banda tinha, o que dizer então da Orquestra do Município que foi criada para ter um número x de músicos e hoje tem 70 músicos prestadores de serviço. Serão estes também exonerados?

    Do ponto de vista musical todos sabem que uma boa banda de música clássica e uma orquestra perde muito em qualidade quando não se tem o número de músicos adequados e necessários. O som sai ruim, um músico que tocava flauta transversal é substituído por um teclado eletrônico e isso muda muito na sonoridade, nem precisa ser músico para saber, basta apenas gostar de escutar música. Sem falar que músico também adoece, pega dengue, covid, catapora, sarampo e gripa. Na falta de um precisa-se substituir por outro. 

    Esse tipo de higienização que sempre fazem nas orquestras e bandas de música públicas vez por outra acaba desprezando um pouco a história das bandas e grupos, história dos próprios músicos que faziam ou fazem parte do corpo até então. E isso não por uma atitude de gestão política simplesmente arbitrária. Mas, porque aquelas, as legislações e acordos não permitem que um músico/servidor possa permanecer por muito tempo dentro de uma instituição prestando serviço. E em se falando em áreas como música e comunicação são casos excepcionais em que nada é levado em consideração pelos tais TAC´s e PAC´s da vida. Aliás, os órgãos públicos fazem concurso para todas as áreas, mas a de música, comunicação e artes são sempre esquecidas, porque pode-se terceirizar ou mesmo “jogar milho para os pombos”. Porque é mais fácil colocar um amigo eleitor da cultura qualificado que executa bem seu trabalho no lugar de um babão de primeira linha. Daí eu pergunto novamente: Cadê o tal TAC que é coletivo? 

    A Banda 5 de Agosto quando foi criada tinha um número x de músico, já teve 52, 54 músicos e estava se sustentando com 50 músicos e mais um regente oficial, um assistente e um arquivista. Desde que foi criada era regida pelo maestro e fundador, Adelson Machado, e tendo como regente adjunto o maestro Rogério Borges, mestre em Educação Musical, ou seja, é conduzida por pessoas com grande profissionalismo musical. 

    banda se apresenta nos principais eventos promovidos pela PMJP executando um repertório que vai do clássico ao popular, com marchinhas, valsas, maxixes, baiões, frevos, dobrados e outros ritmos. Quando os gestores querem eles vão tocar o hino da Paraíba e do Brasil nas solenidades políticas. Em sua trajetória, a Banda 5 de Agosto tocou com vários artistas de renome, como o maestro Wagner Tiso (com quem gravou um DVD), Valmir Vieira (Tubista do Sexteto Brasil), Heleno Feitosa (Costinha), JPSax, e o maestro Duda do Recife, considerado um dos melhores arranjadores do século XX, desenvolveu trabalho com compositores e intérpretes do Nordeste, sempre divulgando os artistas da terra. 

    É lamentável que fatos assim ainda estejam acontecendo e sendo colocado a culpa na pandemia do Covid-19 ou no cumprimento do tal TAC do MP, quando muitas vezes é apenas um problema de administração pública, com secretarias inchadas de políticos e politiqueiros no controle de suas cúpulas. Ou mesmo na ausência de Política Públicas de Cultura, que dê direito as pessoas produzirem sua arte, sua cultura, sem falar que elas ajudam o Estado, um município a não perder sua identidade e história.


Texto: Adriana Crisanto Monteiro (jornalista)
Foto: Rafael Passos